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CLÓVIS ROSSI
O clima não está bom
SÃO PAULO - Primeiro foi o diplomata brasileiro José Maurício Bustani,
afastado do comando da Opaq (Organização para a Proscrição de Armas Químicas) sob pressão dos Estados Unidos.
Agora, é o norte-americano, embora britânico de nascimento, Bob
Watson, defenestrado do IPCC (sigla
em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática)
igualmente por iniciativa dos Estados Unidos, conforme queixou-se em
entrevista a Claudio Angelo, desta
Folha, publicada ontem.
Tudo bem que não há como provar
que tanto Bustani como Watson caíram porque os EUA têm alguma intenção maquiavélica a respeito de armas químicas ou do clima planetário.
Pode-se até conceder à gestão George
Walker Bush o benefício da dúvida, e
supor que Bustani era mau gerente,
como acusam os EUA, e que Watson
era excessivamente engajado no movimento ambientalista.
Mas é possível ter também o direito
da dúvida pelo outro lado e, assim,
imaginar que a administração Bush
está permanentemente impondo o
unilateralismo de que se queixam seguidamente líderes europeus e, entre
outros, o presidente Fernando Henrique Cardoso, que não pode ser acusado de anti-norte-americano.
Ou, posto de outra forma, o governo
Bush parece querer moldar a ONU ao
seu gosto e conforme as suas necessidades e interesses.
No caso do IPCC, a coisa fica mais
grave porque, se Bob Watson fosse
mesmo um militante do ambientalismo, ainda assim preservá-lo no cargo
seria preferível a ter um burocrata na
função.
Por mais que falte ainda a definitiva comprovação científica da razão
das mudanças climáticas, o fato de,
dia sim, outro não, os jornais aparecerem com manchetes do tipo "a
maior inundação do século", "a
maior seca dos últimos 50 anos" etc.
já sugere que um fanático pelo meio
ambiente é o tipo de sujeito saudável
para o planeta.
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