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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lulismo sustentável
SÃO PAULO - "Ninguém neste
país tem mais autoridade moral e
ética do que nosso partido. Admitimos que tem gente igual a nós, mas
não admitimos que tenha melhor."
Assim bradou o presidente no 3º
Congresso do PT. Nas circunstâncias da política nacional, a tirada sugere um desafio para saber quem é
menos ladrão. Faz sentido? Talvez
como sintoma dos tempos cínicos
que vivemos. Não é o caso de levar
muito a sério isso que mais parece
uma gincana do Ali Babá.
Lula falou para o público interno.
Na semana em que o STF sinalizou
numa direção, acolhendo a denúncia contra os 40 do mensalão, o
grande líder orientou a tropa na direção oposta: nenhum petista, disse, "deve ter vergonha de defender
um companheiro". A solidariedade
política aos réus avaliza mais uma
vez os crimes -chamados eufemisticamente de "erros"- do partido.
E reforça a confusão entre camaradagem e práticas mafiosas, traço
marcante deste partido no poder.
Passando a mão na cabeça dos
mensaleiros, Lula age como o pai
que mima o filho que delinqüiu.
Mas é vivo o bastante para dizer:
"Tem um processo e somente esses
companheiros -nem eu nem vocês- sabem o que aconteceu". O pai
compreensivo ignorava tudo e por
isso pode ser benevolente: erraram,
irão pagar, devemos apoiá-los -eis
a farsa retórica pela qual Lula agrada ao PT e engrandece a si mesmo.
O PT diz que o mensalão não
existiu, mas continua acreditando
no socialismo. Conforme chancelou o congresso, o partido agora se
compromete a lutar pelo "socialismo democrático e sustentável". Seria um contraponto ao "socialismo
não-democrático e insustentável"?
Que perda de tempo, quanta empulhação, quanta bobagem junta.
A inclusão do jargão ecológico e
liberal -"sustentável"- para especificar o socialismo petista é a piada
involuntária do encontro.
Lula está há muito tempo em outra. O jogo real do poder passa por
outros canais e interlocutores. O PT
hoje é um acessório, a quem ele fez
sua homenagem e concessão.
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