São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2001 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES O sopro de Deus
MARIA LÚCIA ALCKMIN
Tenho descoberto iniciativas altruísticas que me animam e me estimulam. Elas são tanto mais meritórias quanto mais pobres são os seus responsáveis. São pessoas que trabalham o dia inteiro e, nos fins de semana, participam de alguma atividade em favor das outras. Infelizmente esses gestos são pouco conhecidos. Seria bom se abríssemos os jornais e tivéssemos notícias sobre esses atos positivos das pessoas simples. Creio que isso estimularia os outros, mostrando-lhes como é fácil fazer alguma coisa. E, mais do que isso, como é fácil se sentir feliz em ajudar. Há muitas formas de exercer a solidariedade. Eu entendo que o primeiro passo é despertar nas pessoas a consciência de que são capazes e úteis. Elas devem entender que a primeira solidariedade de que carecem é a delas mesmas. A recuperação da auto-estima, porém, é impossível quando a pessoa está passando fome ou, pior ainda, quando os seus filhos passam fome; quando ela não está preparada para o trabalho; e quando a doença a abate. Antes de mais nada, essas pessoas precisam ser atendidas em sua urgência. O passo seguinte é a devolução de sua dignidade. Meu marido e eu temos sido privilegiados por esse empreendimento. Nós desfrutamos de uma educação cristã e do exemplo familiar, que nos orientou para o exercício da solidariedade. Fico feliz em ocupar hoje uma posição que me permite fazer alguma coisa pelos outros, mesmo sendo pouco diante do que é preciso fazer. O Fundo Social de Solidariedade deve ser menos um centro distribuidor de recursos públicos e mais um instrumento de mobilização da sociedade de São Paulo, começando pelos próprios assistidos. Eles devem ser motivados a participar com a sua inteligência, a sua experiência e o seu próprio trabalho. Graças a Deus, as mulheres dos governadores de São Paulo podem ser úteis, assumindo esse órgão de assistência. Os recursos do Fundo Social de Solidariedade, todos sabemos, são escassos. Mas podemos -e é o que temos feito- estimular os que podem fazer mais. É alentador registrar que, nos últimos anos, o número de grupos de voluntários no Brasil vem se multiplicando. Conhecemos o depoimento de alguns deles. O que mais chama a atenção nesses relatos é a alegria que eles revelam. As pessoas trocam a sua solidão pela vida ativa e descobrem que em todas as relações humanas há uma troca. Quando damos a mão a alguém, alguém nos dá a mão. Quando partilhamos com o outro o nosso pão, vemos que nessa comunhão está todo o sentido da vida. É para viver que o mundo nos foi dado e nos foi dada a alegria do convívio. Maria Lúcia Alckmin, 50, primeira-dama do Estado de São Paulo, é presidente do Fundo Social de Solidariedade. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Paulo Maluf: Perseguição anunciada Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
|