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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
Educação sem romantismo
A CAUSA da melhora da qualidade do ensino básico foi sacralizada no Brasil: todos lhe professam devoção. Não se teve
a paciência de encontrar idéias para fazer da devoção realidade.
Comecemos pelo começo: dinheiro. Sem aumentar em muito o
investimento em educação - dos
poucos mais de 4% do PIB que gastamos hoje para cerca de 7% - não
resolveremos. E dinheiro, no tempo e na quantidade necessários, só
pode vir, na realidade fiscal atual,
de duas fontes: rebaixamento dramático dos juros que o governo paga aos credores da dívida pública
interna e aumento da idade da aposentadoria. Outras fontes possíveis
são tão complicadas, politica e juridicamente, que não atendem o objetivo imediato.
Depois de dinheiro, vêm poder e
responsabilidade. Transferir a gestão das escolas básicas ao governo
federal seria impraticável mesmo
que fosse (e não é) conveniente.
Deixar tudo na mãos de prefeitos e
governadores, porém, é aceitar que
escola de qualidade dependa de governante local com recursos, competência e boa-fé. Impor padrões
nacionais, monitorar, redistribuir
recursos e quadros dos lugares
mais ricos para os mais pobres e intervir corretivamente quando necessário. O Fundeb representa
apenas primeiro passo.
Assegurados dinheiro e poder,
acertar a relação entre o público e o
privado. Abaixo o preconceito
ideológico: experiências como a de
alguns Estados da Índia mostram
que reforma do ensino público pode caminhar junto com facilidades
para melhorar o ensino particular,
tornado acessível aos pobres, com
apoio do governo.
E o conteúdo? Dar prioridade ao
domínio de operações conceituais,
exercitadas em dia escolar que se
alongue: aprender como resolver
problemas em matemática; como
ler textos; como analisar, formular
e escrever idéias; como buscar o conhecimento. Nada de enciclopedismo informativo ou de modismos pedagógicos. Professores formados, equipados e incentivados
por iniciativas do governo federal
- inclusive rede de "escolas normais" para qualificá-los.
Depois de tudo isso, ir fundo no
esforço de identificar, em todos os
níveis do ensino, os alunos pobres
mais talentosos e esforçados. E
oferecer-lhes apoios econômicos
abrangentes e oportunidades acadêmicas extraordinárias. Serão os
bolsistas da República. Sua chegada sacudirá a nação, porque lhe dará esperança.
Despi a causa de seu romantismo. Ficou só o essencial, de problemas e de soluções. Haveria enorme
apoio nacional e internacional. Por
que não fazer?
www.law.harvard.edu/unger
ROBERTO MANGABEIRA UNGER escreve às terças-feiras nesta coluna.
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