|
Próximo Texto | Índice
AS DUAS FRENTES DE BUSH
Em termos ideais, um político
nunca precisaria ter de explicar-se para a população. O mundo real,
porém, como todos sabemos, nada
tem de ideal. Essas considerações valem para George W. Bush, o homem
mais poderoso do planeta. Diante da
crescente desconfiança dos norte-americanos para com a política da
Casa Branca no Iraque, Bush não
apenas teve de convocar às pressas
uma entrevista para explicar-se como precisou negar que tivesse mentido à população. Quando as coisas
chegam a esse ponto, não raro o político está em sérios apuros.
É pouco provável, porém, que esse
seja o caso de Bush, cujo favoritismo
para a disputa eleitoral do ano que
vem só tende a se fortalecer com as
boas perspectivas de retomada econômica. O Iraque, contudo, deverá
permanecer como um flanco aberto
na campanha, especialmente se vidas continuarem sendo perdidas, como ocorreu ontem, com a derrubada
de um helicóptero que matou mais
de uma dezena de militares.
A maior tranquilidade na área econômica poderá até mesmo aumentar
a visibilidade, na mídia, dos problemas militares. Já na coletiva da semana passada, os jornalistas não fizeram uma única pergunta sobre economia, concentrando-se no caso iraquiano. No espaço de menos de uma
hora que durou a entrevista, o presidente afirmou 17 vezes que o Iraque é
um "lugar muito perigoso". Disse
ainda nunca ter sugerido que o conflito havia terminado, embora tenha
decretado o fim das principais operações de combate há seis meses.
O mais desalentador é que não se
vislumbra um horizonte de melhora,
no qual a violência diminua e os EUA
possam retirar suas tropas do país.
Ao contrário, as ações anti-Estados
Unidos têm-se intensificado, e os
grupos que as realizam parecem estar cada vez mais organizados.
A favor de Bush pesa, no entanto, a
evidência de que após o 11 de Setembro a segurança interna tem sido preservada. Pesará, também, e ainda
mais, se o aquecimento econômico
for consistente e diminuir o desemprego. Nas urnas, um êxito na frente
econômica contará bem mais do que
eventuais crises na frente iraquiana.
Próximo Texto: Editoriais: RISCOS DUVIDOSOS Índice
|