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São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2003

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AS DUAS FRENTES DE BUSH

Em termos ideais, um político nunca precisaria ter de explicar-se para a população. O mundo real, porém, como todos sabemos, nada tem de ideal. Essas considerações valem para George W. Bush, o homem mais poderoso do planeta. Diante da crescente desconfiança dos norte-americanos para com a política da Casa Branca no Iraque, Bush não apenas teve de convocar às pressas uma entrevista para explicar-se como precisou negar que tivesse mentido à população. Quando as coisas chegam a esse ponto, não raro o político está em sérios apuros.
É pouco provável, porém, que esse seja o caso de Bush, cujo favoritismo para a disputa eleitoral do ano que vem só tende a se fortalecer com as boas perspectivas de retomada econômica. O Iraque, contudo, deverá permanecer como um flanco aberto na campanha, especialmente se vidas continuarem sendo perdidas, como ocorreu ontem, com a derrubada de um helicóptero que matou mais de uma dezena de militares.
A maior tranquilidade na área econômica poderá até mesmo aumentar a visibilidade, na mídia, dos problemas militares. Já na coletiva da semana passada, os jornalistas não fizeram uma única pergunta sobre economia, concentrando-se no caso iraquiano. No espaço de menos de uma hora que durou a entrevista, o presidente afirmou 17 vezes que o Iraque é um "lugar muito perigoso". Disse ainda nunca ter sugerido que o conflito havia terminado, embora tenha decretado o fim das principais operações de combate há seis meses.
O mais desalentador é que não se vislumbra um horizonte de melhora, no qual a violência diminua e os EUA possam retirar suas tropas do país. Ao contrário, as ações anti-Estados Unidos têm-se intensificado, e os grupos que as realizam parecem estar cada vez mais organizados.
A favor de Bush pesa, no entanto, a evidência de que após o 11 de Setembro a segurança interna tem sido preservada. Pesará, também, e ainda mais, se o aquecimento econômico for consistente e diminuir o desemprego. Nas urnas, um êxito na frente econômica contará bem mais do que eventuais crises na frente iraquiana.



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