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FERNANDO RODRIGUES
Tolerância e abulia
BRASÍLIA - A alta popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
no seu décimo mês de mandato é sintomática de como o eleitor brasileiro
parece se comportar de maneira monocórdia. Pelo menos em relação ao
período inicial de mandato de governantes democraticamente eleitos na
última década.
Só há dois presidentes na história
recente do Brasil que foram eleitos
pelo voto direto e não enfrentaram
grandes crises no seu primeiro ano.
São eles Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) e Lula (PT).
É quase idêntico o tratamento dado
aos dois pelos brasileiros. Lula tem
42% de aprovação com dez meses de
mandato. FHC tinha também 42%
aos nove meses (não há pesquisa do
Datafolha disponível para o décimo
mês do tucano). A similitude só não é
total por causa das taxas de "regular"
e de "ruim/péssimo" -o petista ganha do tucano, por 44% a 39% e por
11% a 15%, respectivamente.
Essa coincidência de percentuais
ocorre a despeito da abissal diferença
entre o Brasil de 1995 e o país de agora. Dois indicadores servem para
ilustrar o divórcio desses dois brasis:
1) o dólar hoje vale R$ 2,86, enquanto
há oito anos a taxa era de R$ 0,96; 2)
o desemprego na cidade de São Paulo
é de 20,6%, contra 13,3% no início da
administração tucana.
Aos olhos dos eleitores, nada disso
importa. Para os brasileiros pesquisados pelo Datafolha, Lula merece a
mesma aprovação que teve FHC.
É muito cedo para decretar a existência de um padrão imutável de paciência e de tolerância dos eleitores
para com os presidentes eleitos. Serão
necessárias outras eleições para que
algo próximo a isso possa ser concluído com alguma ciência.
Ainda assim, chama a atenção neste início de série histórica a bonomia
que os brasileiros exercem em relação
aos presidentes que saíram das urnas. Bonomia talvez seja um termo
impróprio. Abulia é melhor.
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