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São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Tolerância e abulia

BRASÍLIA - A alta popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no seu décimo mês de mandato é sintomática de como o eleitor brasileiro parece se comportar de maneira monocórdia. Pelo menos em relação ao período inicial de mandato de governantes democraticamente eleitos na última década.
Só há dois presidentes na história recente do Brasil que foram eleitos pelo voto direto e não enfrentaram grandes crises no seu primeiro ano. São eles Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT).
É quase idêntico o tratamento dado aos dois pelos brasileiros. Lula tem 42% de aprovação com dez meses de mandato. FHC tinha também 42% aos nove meses (não há pesquisa do Datafolha disponível para o décimo mês do tucano). A similitude só não é total por causa das taxas de "regular" e de "ruim/péssimo" -o petista ganha do tucano, por 44% a 39% e por 11% a 15%, respectivamente.
Essa coincidência de percentuais ocorre a despeito da abissal diferença entre o Brasil de 1995 e o país de agora. Dois indicadores servem para ilustrar o divórcio desses dois brasis: 1) o dólar hoje vale R$ 2,86, enquanto há oito anos a taxa era de R$ 0,96; 2) o desemprego na cidade de São Paulo é de 20,6%, contra 13,3% no início da administração tucana.
Aos olhos dos eleitores, nada disso importa. Para os brasileiros pesquisados pelo Datafolha, Lula merece a mesma aprovação que teve FHC.
É muito cedo para decretar a existência de um padrão imutável de paciência e de tolerância dos eleitores para com os presidentes eleitos. Serão necessárias outras eleições para que algo próximo a isso possa ser concluído com alguma ciência.
Ainda assim, chama a atenção neste início de série histórica a bonomia que os brasileiros exercem em relação aos presidentes que saíram das urnas. Bonomia talvez seja um termo impróprio. Abulia é melhor.



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