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Perspectivas favoráveis a uma política econômica mais austera ainda esbarram em incertezas quanto ao perfil que de fato terá o governo
Declarações da presidente eleita, Dilma Rousseff, indicam disposição ao comedimento na expansão dos gastos públicos, como forma de canalizar recursos para investimentos. Anuncia-se, além
disso, o que seria um salutar retorno aos mecanismos de regulação
econômica, como as agências, para arbitrar de forma mais eficiente
os problemas de competitividade
que oneram cada vez mais o consumidor e a economia.
Em relação à gestão das contas
públicas, algumas decisões já se
impõem antes do final do ano. Parece haver ciência por parte do governo e da equipe de transição de
que a busca de recursos públicos
para as grandes obras de infraestrutura demandará ações firmes
de contenção de despesas logo no
início da nova administração.
Neste quesito, Dilma tem a vantagem de contar com a colaboração
de seu predecessor, que se dispõe
a assumir parte do ônus político
de medidas contracionistas.
Tudo indica, de fato, que Lula
antecipará pontos da agenda do
ajuste fiscal para poupar o novo
governo de desgastes em seus primeiros meses. Entre as decisões
estariam o novo valor do salário
mínimo, cujo aumento real deverá
ser menor do que o autorizado nos
últimos anos, e mais cautela na
concessão de reajustes salariais
para o funcionalismo.
É, porém, na agenda microeconômica, depois de anos de abandono, que o governo Dilma tem
uma excelente oportunidade para
se destacar. A designação do ex-ministro Antonio Palocci para
coordenador técnico da transição
é um sinal de que o tema poderá
receber a atenção que merece.
Palocci, quando ministro da Fazenda, no primeiro mandato, teve
papel relevante na criação de regras para expandir o crédito, estimular o mercado de capitais e facilitar a vida tributária de empresas.
O Brasil invariavelmente aparece nos últimos lugares nos rankings internacionais de competitividade, custo de produção e ambiente de negócios em geral. Desonerar a produção, desburocratizar
a abertura de empresas, incentivar a inovação e a pesquisa aplicada e abrir novos canais de crédito
privado para financiar investimentos de longo prazo são itens
essenciais para o futuro da economia brasileira.
Embora os sinais sejam de um
bom começo, é sempre recomendável alguma cautela. Não se sabe
até que ponto a presidente eleita
subscreverá uma agenda de fortalecimento das instituições e de
modernização da regulação econômica, uma vez que tal política
reduziria a margem de atuação
discricionária do governo e poderia contrariar interesses da influente articulação sindical-burocrática petista.
Esperemos que Dilma Rousseff
contenha tendências mais sectárias e fisiológicas de seus aliados e
de fato atue para reforçar a concorrência e a capacidade de empreender do setor privado.
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