São Paulo, terça-feira, 03 de dezembro de 2002

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PAINEL DO LEITOR

PT
Em relação às notas "Roupa suja", "Esperança frustrada" e "Telhado de vidro" ("Painel", Brasil, pág. A4, 1º/12), cabe-me apenas uma reflexão, originada mais na minha profissão de psicanalista do que como dirigente partidária: o ciúme e a inveja transcendem as barreiras partidárias e muitas vezes as da própria ética. A esperança venceu o medo. Ela vencerá a mediocridade e a mesquinharia.
Como membro da Executiva Nacional do PT, além de prefeita da cidade de São Paulo, e tendo feito o maior esforço para a vitória eleitoral de Lula e do PT, considero ter contribuído com altruísmo, ao lado de 52 milhões de brasileiras e brasileiros, para a "nomeação" mais importante do futuro governo.
Os resultados obtidos nas eleições para presidente, governador, senador, deputados federais e estaduais na capital paulista foram os maiores em toda a história do PT na cidade. É um resultado que orgulha não só a mim mas também a direção municipal e estadual do PT e, seguramente, o PT como um todo. Não terão sucesso as tentativas de fomentar a divisão entre mim e o presidente Lula ou entre os membros da "cúpula" do PT, pois sabemos todos que a divisão é um perigo que ameaça mortalmente o difícil trabalho que temos pela frente para construir um futuro para os milhões de brasileiros que depositaram seu voto, com fé, na mudança de verdade.
Fui a primeira autoridade publica a se manifestar com ponderação em relação aos problemas da dívida da cidade de São Paulo e, longe de qualquer contrariedade, sei do carinho particular com que São Paulo será tratada pelo presidente. Saberemos aguardar o melhor momento para, com espírito de responsabilidade para com o país, equacionar esta grave situação.
O momento histórico em que Luiz Inácio Lula da Silva vai virar uma página de 500 anos da história do Brasil exige dos dirigentes e militantes do PT um senso de responsabilidade à altura desse desafio. Tenho a convicção de que a maioria esmagadora das filiadas e filiados do partido, assim como de seus dirigentes, saberão corresponder a essa imensa tarefa."
Marta Suplicy, membro da Executiva Nacional do PT e prefeita de São Paulo (São Paulo, SP)

Dinheiro sujo
"O cínico e cada vez mais atual ditado "dinheiro é sujo quando é pouco" tem a variante "dinheiro é sujo quando é vivo".
É sabido que a compra de bens e de consciências é sempre feita com dinheiro vivo, que não deixa rastros.
E o dinheiro vivo pode, pela primeira vez na história, ser eliminado da face da Terra -exceto talvez em países com tecnologia bancária atrasada, o que felizmente não é o caso do Brasil.
Se milhões de pessoas com pouca escolaridade conseguem usar perfeitamente os cartões magnéticos dos programas sociais do governo, por que não tornar obrigatório que pagamentos acima de R$ 100 sejam feitos com cartão magnético -que registra para qual e de qual conta bancária o dinheiro está sendo transferido?"
Fernando Salinas Lacorte (Rio de Janeiro, RJ)

Mulher
"A coluna "No Ar" de 29/11 ("Morte no final", Brasil, pág. A7) traz uma observação do jornalista Nelson de Sá no mínimo altamente ofensiva à Rede Mulher de Televisão.
Ao fazer comentários sobre o que considera excesso de entrevistas do presidente da República, o jornalista opina que "agora (Fernando Henrique Cardoso) dá entrevista até para a Rede Mulher".
A preconceituosa observação não se justifica, a não ser por desastrosa tentativa de gracejo. Questionamos seriamente o que levou Nelson de Sá a criticar a emissora e, indiretamente, a sua colega, a respeitada jornalista Fátima Turci, no legitimo exercício de sua profissão. O que deveria ser comemorado como um orgulho para todos, que é entrevistar o presidente, torna-se, nas observações levianas de Nelson de Sá, um demérito, justamente porque ocorreu na Rede Mulher...
Além disso, é preciso lembrar que a Rede Mulher, apesar de seus poucos anos de mercado, oferece uma programação de qualidade para seu público, que está presente em 80% do território nacional. Um bom exemplo disso é a entrevista com FHC que foi veiculada ontem, às 21h, no programa "Economia & Negócios", com Fátima Turci.
Ainda somos uma emissora pequena, mas parece-nos que críticas irresponsáveis não servem nem ao bom jornalismo nem ao exercício da democracia.
Temos certeza de que a direção da Folha não pactua com o posicionamento da coluna citada. Por isso registramos aqui o repúdio ao ocorrido. Contamos com o habitual bom senso e a seriedade da direção da Folha para corrigir o mal-estar criado não apenas entre nós mas em todos os que lutam diária e honestamente com o seu trabalho, prestigiando com a audiência, concedendo entrevistas e acreditando na seriedade de propósitos e no crescimento da Rede Mulher.
Marcus Cacais, diretor artístico e de produção da Rede Mulher (São Paulo, SP)

Estupros na USP
"É revoltante o que vem acontecendo na Cidade Universitária nos últimos meses.
Um estuprador age fazendo dezenas de vítimas (dizem extra-oficialmente que são mais de 30 pessoas atacadas) e a polícia e a Guarda Universitária não fazem absolutamente nada -nem o retrato falado do estuprador foi divulgado. Cartazes que avisavam os estudantes sobre os estupros, impressos pela central dos estudantes, foram recolhidos pela reitoria porque "comprometem a imagem" da Guarda Universitária.
A Reitoria vai imprimir manuais de como se portar na Cidade Universitária para prevenir estupros, ou seja, perdemos o direito de andar sozinhos pelo campus porque a Guarda não é capaz de dar conta do espaço. Essa guarda parece só existir para reprimir os estudantes em manifestações pacíficas. Não podemos estudar porque o sistema de segurança da Universidade de São Paulo -privatizado, por sinal-, em vez de garantir a segurança dos alunos, garante a perseguição política e a violência."
Bianca Ribeiro Manfrini (São Bernardo do Campo, SP)

Choque
"A reportagem "Dirceu articula para não dividir poder com Genoino" (Brasil, pág. A18, 1º/12) comete um erro.
Não é fato que "(...) no início do primeiro mandato de FHC, o ministro de Assuntos Políticos, Luiz Carlos Santos, vivia em choque com Eduardo Jorge".
Desafio o repórter Kennedy Alencar ou qualquer outro jornalista a especificar os fatos que dão sustentação a essa tese -ou mesmo a um só choque entre nós. Tenho certeza de que o deputado confirmará esta versão.
Em uma única ocasião -e já no final do primeiro mandato-, a imprensa tentou construir um conflito -que, aliás, não prevaleceu. Foi quando se especulou se teria sido eu ou ele quem teria instruído o Banco do Brasil no célebre caso da lista dos deputados do PPB. Mas o fato é que esse processo terminou há poucos dias, com a absolvição dos acusados, e, portanto, com o reconhecimento de que não houve interferência política nos fatos, provando que não houve "instrução" de nenhum de nós dois. Solicito a correção."
Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-secretário-geral da Presidência da República (Brasília, DF)

Resposta do jornalista Kennedy Alencar - Apesar de negar atritos com o ex-ministro Luiz Carlos Santos, o episódio da lista do Banco do Brasil foi um dos vários desentendimentos de bastidores entre os dois. No caso, havia a suspeita de que o vazamento de informações partira de um deles para prejudicar as articulações políticas do outro.


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