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CARLOS HEITOR CONY
Um gesto de paz
RIO DE JANEIRO - A visita de
Bento 16 à Turquia foi o seu primeiro e mais bem-sucedido gesto de
chefe de Estado, mostrando que Joseph Ratzinger não é apenas um intelectual da teologia nem um inquisidor das coisas da fé. Como líder
religioso, ele sabia que as multidões
não o esperariam na missa que rezou no santuário da Virgem Maria,
próximo das ruínas da cidade histórica de Éfeso: juntou apenas 250
convidados.
Mesmo assim, nos seus pronunciamentos, ele acentuou as convergências do catolicismo romano com
o ortodoxo, dando mais um passo
para a aproximação das duas igrejas, separadas há séculos.
Também para os muçulmanos
ele lembrou que as diferenças das
duas religiões não afetam o principio básico de cada uma, que é a
crença num só Deus.
Onde o sucesso da visita foi mais
relevante foi mesmo no campo diplomático. No difícil papel de líder
religioso e chefe de Estado, Bento
16 teve um gesto de reconciliação
após uma declaração infeliz feita
num passado recente. A visita valeu
como um pedido de desculpas e
como tal foi aceita pelo Estado da
Turquia.
Ícone branco do Ocidente, o papa
deu um passo importante na aproximação das duas civilizações, que
ameaçam um confronto apocalíptico. Não serão armas nem a tecnologia sofisticada do mundo ocidental
que farão o milagre da paz entre as
duas civilizações.
Do ponto de vista estritamente
religioso, a visita de Bento 16 segue
a linha apostólica de São Paulo: não
adianta converter os convertidos.
Paulo tornou-se o apóstolo dos gentios, daqueles que não tinham a
mesma fé. E, com isso, de certa forma mudou o mundo. Sozinho, Bento 16 não pode fazer o mesmo. Mas
seu exemplo pode motivar outros
gestos de paz que tragam a concórdia entre todos os povos da terra.
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