São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2010

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Vice-ministério


Equipe da nova presidente vai conciliando feições conhecidas do governo Lula com nomes associados a um perfil de segundo escalão

Mal se anunciara o triunfo de Dilma Rousseff na disputa eleitoral, o presidente Lula convocou uma entrevista coletiva na qual, ao lado da candidata vitoriosa, rechaçou especulações sobre sua ingerência na formação do futuro ministério. O novo governo, disse o mandatário, teria que ter "a cara e a semelhança" da sucessora.
De certa forma é o que está acontecendo. Afinal, à face própria e reconhecida da eleita, que é a de gerente e tocadora de projetos, somaram-se, na campanha, as feições da continuadora de Lula. Sendo assim, a equipe ministerial, como se delineia, parece conciliar o perfil gerencial, de "segundo escalão", que identificava a ex-ministra, com os traços continuístas de seu demiurgo.
Na área econômica, os dois aspectos se evidenciam, por um lado, na permanência do responsável pela Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho -e, por outro, no anúncio de Alexandre Tombini, espécie de "vice" de Henrique Meirelles, para o Banco Central. No Ministérios das Relações Exteriores, também um "segundo", o diplomata Antonio Patriota, será alçado ao primeiro time, o que deverá conferir à chancelaria um padrão mais opaco, sem a luz própria que, para o bem ou para o mal, Celso Amorim emanava.
Para o núcleo político do futuro governo foram escolhidos nomes intimamente ligados a Lula. Antonio Palocci, designado para coordenar a campanha petista, voltará ao Executivo, ao que tudo indica, na Casa Civil. E Gilberto Carvalho, chefe de gabinete, deverá ser o responsável pela nova Secretaria Geral da Presidência. Além disso, Fernando Haddad, na Educação, e Izabella Teixeira, no Meio Ambiente, já são dados como certos.
É improvável que se fuja desse diapasão mediano e conservador na fase de transição -o que não deixa de ser conveniente para a nova mandatária, que deverá contar com mais estabilidade no início de seu mandato. Deve-se lembrar, também, que mudanças ministeriais não costumam tardar.
Restam, de qualquer forma, diversos postos a preencher. Para satisfazer o apetite de petistas e aliados, Lula não economizou em nada, muito menos na ampliação do número de pastas.
Basta dizer que o governo Fernando Henrique Cardoso chegou ao fim com 20 ministérios e 6 cargos com status de ministro, enquanto seu sucessor deixará como herança 24 ministérios e 13 cargos com status de ministro. Só a estrutura da Presidência da República abriga hoje 13 ministros, contra 6 no governo FHC.
Melhor faria a presidente eleita, disposta, segundo se noticia, a promover ajustes na máquina pública, se podasse essa árvore de Natal em que se transformou o organograma do Executivo. Mas é difícil acreditar que, diante de tantas pressões e interesses a acomodar, a austeridade se imponha na Esplanada dos Ministérios.


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