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RICARDO MELO
Raposa no galinheiro
SÃO PAULO - Na calada de 2009, e
como se nada tivesse acontecido, o
presidente da Câmara Legislativa
de Brasília teve a cara de pau de
anunciar o retorno ao cargo.
É, ele mesmo, Leonardo Prudente. Aquele político flagrado em vídeo ao guardar dinheiro nas meias,
numa rara demonstração de desprezo por um sobrenome. Foi sucesso de audiência, não exatamente
por desviar recursos públicos -atividade que, no Brasil, é multipartidária. O ex-filiado do DEM virou hit
ao ampliar as possibilidades indumentárias da corrupção.
A volta de Prudente faz parte da
manobra para livrar a cara dos envolvidos num dos maiores escândalos recentes. A começar da cara do
gerente do esquema, o governador
"demista" (chamá-lo de democrata
é exagerar na ironia) José Roberto
Arruda, o qual, além de sinônimo de
corrupto, deixará para a história o
legado de mentiroso patológico.
Como raposa no galinheiro, será
de Prudente a tarefa de conduzir a
criação de CPIs sobre o escândalo e
os processos de impeachment de
Arruda. A OAB, que patrocina um
dos processos, mostrou-se indignada: "Não haveria desfecho mais lamentável para o 2009 do contribuinte brasiliense, lesado em ações
fraudulentas por políticos como
Prudente". Mas lamentar é pouco.
Já que o contribuinte vem sendo
lesado, vai aqui uma sugestão: por
que não entrar com uma ação para
garantir o depósito dos impostos
em juízo, e não nos cofres corrompidos do governo distrital? Seria
uma forma de cortar a irrigação do
propinoduto que, suspeita-se, abastece até a sogra do governador. Serviria ainda para impedir que a quadrilha use verba pública para tentar
calar a oposição, como fez ao manipular o reajuste do funcionalismo.
Meios para uma ação como esta
certamente há. Bons advogados
conseguem coisas muito mais difíceis. E, até o impeachment ser votado (ou a ação chegar ao Supremo...),
o esquema demista teria que se virar sem o patrimônio alheio. Ou seja, enquanto Arruda e Cia. estiverem no poder, nada de dinheiro de
cidadãos honestos. Mesmo em Brasília, eles ainda são a maioria.
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