São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Rádio
"Há dois dias, a jornalista Laura Mattos escreve reportagens na Folha relatando o que chama de "ligação" minha com o que qualifica de "rádio pirata" em Lavras da Mangabeira (CE), cidade onde nasci. A rádio comunitária Elo FM, que, durante o período em que funcionou, esteve amparada em uma liminar expedida pelo juiz da 7ª Vara Federal do Ceará, foi fechada em junho de 2003. A liminar autorizou o funcionamento não apenas dessa rádio comunitária -operada por uma fundação dirigida por parentes meus da qual nunca fiz parte- mas sim o de outras emissoras de igual natureza. O sinal da Elo FM foi descontinuado quando caiu a liminar judicial. Como líder do PMDB, deputado federal eleito em 1998 e reeleito em 2002 e integrante da Executiva Nacional do meu partido, jamais usei o meu mandato ou a minha natural influência política para pedir vantagens ou decisões favoráveis a essa rádio comunitária. A rádio comunitária que hoje funciona em minha cidade natal, com autorização do Ministério das Comunicações, pertence a outro grupo político da cidade. A propósito, lembro que a Constituição brasileira determina que candidatos a cargos eletivos se afastem do comando de empresas de comunicação. Desde 1998, pedi afastamento do comando das rádios comerciais de cujas concessões sou detentor. E, embora não fosse obrigado a tê-lo feito, naquele mesmo ano afastei-me da gerência de todas as empresas que dirigia. Permaneci vinculado a elas apenas como acionista. Por fim, afirmo que a Casa Civil da Presidência da República jamais pediu esclarecimentos formais ou informais sobre o caso e asseguro que estarei sempre à disposição de quaisquer parlamentares que desejem debater o teor dessas reportagens comigo."
Eunício Oliveira, ministro das Comunicações (Brasília, DF)

Resposta da jornalista Laura Mattos - A Elo FM -ligada à fundação presidida pela mãe do ministro e dirigida por sua irmã- não tinha autorização do Ministério das Comunicações para operar. A rádio foi "descontinuada" pela Anatel, conforme confirmou, em entrevista gravada, a própria assessoria do ministério.

Câmara
"Não era minha intenção responder ao jornalista Nelson de Sá, que, em sua coluna "No ar" de 30/1 (Brasil, pág. A6), foi pessoalmente injusto comigo e jornalisticamente falho. Mas, por citar meu nome novamente em sua coluna publicada ontem em parte dos exemplares (Brasil, pág. A8), resolvi responder. Peço desculpas aos leitores da Folha e aos jornalistas, profissionais que respeito, mas escrevo movido pela indignação. Por dever de ofício, sou leitor da coluna de Nelson de Sá. Em geral, sua opinião sobre terceiros -tanto personagens públicos como profissionais da mídia eletrônica- é sempre a mesma: ninguém presta. Sua soberba e sua prepotência, aliadas ao poder de julgar e de condenar pessoas, potencializadas pela tribuna que este jornal lhe proporciona, são inacreditáveis. O jornalista Nelson de Sá não me conhece, ignora como vivo, jamais aprofundou-se na busca de informações sobre a minha trajetória política e não sabe o que penso. Pergunto: por que, com a simplicidade e a humildade dos bons jornalistas, o senhor nunca me procurou para saber minha versão dos fatos antes de publicá-los e de teorizar sobre eles? Respeite a minha dor pela memória dos servidores públicos assassinados em Unaí. Respeite a minha solidariedade às famílias daqueles trabalhadores. Respeite a minha vida de lutas a favor do respeito aos direitos humanos e por uma sociedade mais justa. O jornalista não pode julgar o sentimento das pessoas. Não pretendo estabelecer polêmica com quem olha a história de forma unilateral e, com uma arrogância parva, sente-se no direito de condenar a todos e a qualquer um."
João Paulo Cunha, deputado federal -PT-SP-, presidente da Câmara dos Deputados (Brasília, DF)

Prefeitura
"A reportagem "Marta fecha de novo contas no vermelho" (Cotidiano, 28/1) aponta para um déficit na prefeitura, em 2003, de pelo menos R$ 200 milhões. Levantamento feito por nós indica um déficit da ordem de R$ 600 milhões. Em outro trecho, a reportagem aborda a margem de remanejamento de 15% do Orçamento de 2004 obtida pela prefeita graças à sua maioria parlamentar na Câmara Municipal. É necessário salientar, porém, que há uma série de exceções na peça orçamentária com o objetivo de deixar livres de restrições gastos nas secretarias de Educação, de Saúde e de Habitação e nas subprefeituras. Isso transformará os 15% de remanejamento em quase 60%, o que compromete gravemente o sentido do Orçamento."
José Aníbal, ex-presidente nacional do PSDB (São Paulo, SP)

Arquimedes e a combinatória
"O artigo "Eureca nas entrelinhas" (Mais!, 21/12/2003), traduzido de "In Archimedes" Puzzle, a New Eureka Moment", do jornal "The New York Times" de 14/12/ 2003, reproduz candidamente várias opiniões desinformadas e superficiais da jornalista científica norte-americana Gina Kolata. Soa quase ridículo afirmar que "a meta da análise combinatória é determinar de quantos modos um dado problema pode ser resolvido", como se os matemáticos nada mais tivessem a fazer do que, insatisfeitos com uma solução, buscar todas as outras. A análise combinatória é muito mais do que isso: sua meta é investigar as propriedades assintóticas de configurações com estruturas, como grafos, geometrias finitas, grupos de palavras etc. A questão da contagem é apenas um aspecto importante -no caso do quebra-cabeças chamado Stomachion, o problema é exatamente determinar de quantas maneiras as 14 figuras geométricas podem ser combinadas (recortadas em tiras de papel, e não em "faixas de papel", como a tradução desinforma e faz perder todo o sentido do problema) para formar um quadrado. A resposta tanto pode ser 17.152 (como o artigo diz) como 268 (que o artigo não diz), levando-se em conta ou não as soluções simétricas, dividindo-se nesse caso por 64 o espaço de soluções. Definir, estudar e calcular com essas simetrias é muito mais a meta da análise combinatória do que computar quantidades. A leviandade maior do artigo, contudo, é afirmar que "a análise combinatória (...) não voltou a emergir até o surgimento das ciências da computação". São conhecidíssimos os trabalhos de Leonhard Euler (1707-1783) sobre a enumeração combinatória e, antes dele, como sabem estudantes de matemática, de filosofia, de lógica e de computação, os de Gottfried Wilhelm Leibniz em sua "Dissertatio de arte combinatória", de 1666. O próprio Leibniz explicitamente reconhecia em sua arte combinatória uma elaboração dos conceitos do filósofo catalão Ramón Llull (1232-1316). Dessa forma, a não ser que a autora decida situar o "surgimento das ciências da computação" no século 13, temos mais um exemplo de que o que não é muito bom para os norte-americanos não deve ser melhor para os brasileiros. Pode até ser bom para jornais que conseguem preencher espaço sem se dar ao trabalho de pedir a opinião dos cientistas nacionais, mas certamente não é bom para os leitores brasileiros."
Walter A. Carnielli, professor titular de lógica e fundamentos da matemática do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp (Campinas, SP)

População
"Excelente a entrevista com a doutora Elza Berquó ("País não precisa de política de planejamento familiar", Brasil, 26/1). Depois de semanas ouvindo idéias que se baseiam apenas na ideologia, foi importantíssimo poder compreender o que vem acontecendo com a fecundidade no Brasil com quem realmente estuda o assunto. A entrevista deixa claro que é preciso ampliar o acesso das mulheres mais pobres à anticoncepção para atender ao direito daquelas que querem controlar a fecundidade, mas não conseguem. No entanto, ao relatar que apenas 6,2% das mulheres têm quatro filhos ou mais, demonstra que, além do desrespeito aos direitos individuais, uma política de controle da natalidade é desnecessária no Brasil."
Tania Di Giacomo do Lago (São Paulo, SP)

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