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Pela pluralidade
É bom para a democracia que Ciro Gomes e Marina Silva se lancem como opções e incomodem petistas e tucanos
PODE-SE GOSTAR ou não de
Ciro Gomes. Pode-se
considerá-lo um político
com muitas ideias e perfil
arrojado, alguém com capacidade de formulação e liderança incomuns no cenário público brasileiro. Pode-se também pensar
que o deputado federal pelo PSB
é figura de perfil autoritário e
tendências voluntaristas, personalidade irascível, que se destempera com facilidade -alguém, além do mais, que pulou
de sigla em sigla ao longo da sua
trajetória política.
Goste-se ou não de Ciro Gomes e do que ele representa politicamente, de uma coisa é difícil
discordar: com sua presença, a
campanha presidencial tende a
ser mais rica em discussões, propostas, confrontos de ideias.
Não se trata aqui de defender
uma candidatura, qualquer que
fosse, mas o salutar valor da pluralidade. Ciro Gomes reapareceu
em público anteontem, depois
de um período de férias, reiterando a sua disposição de disputar a Presidência. Disse que pretende se apresentar como "opção" ao eleitor, que não ficaria
obrigado a "votar por negação"
-o que, segundo ele, aconteceria
numa eleição plebiscitária entre
José Serra, pelos tucanos, e Dilma Rousseff, pelo PT.
O mesmo argumento vale para
Marina Silva, ex-ministra de Lula, senadora pelo PV. Sua postulação à Presidência tem o mérito
de incorporar ao debate temas
emergentes na agenda global, relacionados à preservação do ambiente e ao chamado desenvolvimento sustentável, que sem ela
provavelmente teriam presença
mais discreta e lateral na dinâmica da campanha.
Mais do que isso, porém, tanto
a participação de Marina como a
de Ciro fazem bem ao processo
eleitoral porque desafiam a lógica plebiscitária. Tal lógica interessa a PT e PSDB, embora os argumentos de cada um possam
variar. Para o eleitor, no entanto,
a escolha de tipo plebiscitário só
faz sentido no segundo turno.
Antes disso, parece ser apenas
uma limitação artificial e precoce do processo democrático.
Ninguém desconhece o fato
histórico de que PSDB e PT disputam a hegemonia política do
país já há quatro eleições consecutivas. Os partidos se constituíram a partir do Plano Real e da
eleição de Fernando Henrique
Cardoso, em 1994, como polos
do poder, no que foi batizado de
"concertação brasileira" -uma
alusão livre ao arranjo institucional da política chilena.
Ninguém ignora tampouco a
grande probabilidade de essa polarização (em parte, diga-se, forjada por antigos interesses da
política paulista) repetir-se no
pleito deste ano, conforme já sugerem as pesquisas eleitorais. E
essa é mais uma razão para que
se veja com bons olhos a ampliação do debate no primeiro turno.
Ciro Gomes disse anteontem
que a aliança entre PT e PMDB
parece um "roçado de escândalos". Não faz muito, havia dito de
José Serra que era "mais feio por
dentro do que por fora". Pode-se
discordar de uma ou outra coisa.
Pode-se discordar inclusive desse estilo. Mas é saudável para a
democracia que Ciro e Marina
existam como opções e possam
incomodar petistas e tucanos.
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