São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2011

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ELIANE CANTANHÊDE

Agora, basta!

BRASÍLIA - Diplomatas são treinados para ter sangue-frio, paciência, linguajar sutil e habilidade. Mas eles também são de carne e osso, e a paciência do embaixador brasileiro no Cairo, Cesário Melantonio, 40 anos de Itamaraty, parece que se esgotou ontem.
Ele considera, como qualquer pessoa razoável e qualquer regime que se preze, que o ditador Hosni Mubarak ultrapassou todos os limites ao jogar os cães -e policiais à paisana, travestidos de "manifestantes pró-governo"- contra jornalistas estrangeiros, não importando a nacionalidade.
A fúria atingiu jornalistas de aliados como os Estados Unidos (o maior de todos...) e de todo o resto: da Turquia, da Alemanha, da França. Nem os brasileiros escaparam, como relatam, com a adrenalina ainda alta, Corban Costa e Gilvan Rocha, da EBC.
A partir daí, o diplomata Melantonio abandonou o "diplomatês" e falou em claríssimo português o que estava achando daquilo tudo: "Uma barbárie". Também classificou o governo de Mubarak de "gerontocracia" (numa referência à idade provecta do ditador) e opinou claramente sobre as chances de permanência de Mubarak no poder, ou da vitória de seu filho Gamal nas eleições de setembro: "O regime está morimbundo".
Em sua terceira nota, o governo Dilma Rousseff continuou excessivamente cauteloso, mas subiu o tom, ao usar um verbo pouco usual nos suscetíveis textos diplomáticas, onde uma vírgula pode mudar tudo: "deplorar". O Brasil, enfim, "deplora" o que ocorre no Egito.
Pelo que se vê, ninguém dá mais um tostão furado pela sobrevivência política de Mubarak, há 30 anos no poder. Agora, o problema passa a ser outro: depois dele, quem -ou o quê- virá no país árabe?
PS - É digno de registro: nunca antes neste país a primeira mensagem presidencial ao Congresso não merece uma só linha entre alguns dos principais jornais brasileiros.

elianec@uol.com.br


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