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São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2003

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CONTA DIFÍCIL

A resolução de um simples problema matemático -uma regra de três, por exemplo- constitui um grande problema para a maioria da população brasileira. Segundo pesquisa nacional realizada pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa, 51% dos entrevistados dizem ter alguma dificuldade para fazer contas. Cerca de um terço da população entre 15 e 64 anos consegue no máximo executar tarefas simples, como anotar um número de telefone ditado por alguém, ver as horas no relógio ou verificar uma data no calendário.
O levantamento apenas confirma o que os exames vinham apontando de forma recorrente: os estudantes não possuem conhecimentos matemáticos fundamentais que supostamente deveriam dominar. Pesquisa feita pela secretaria estadual da Educação em 2001 revelou que ela é tida como a disciplina mais difícil. No ano passado, os 130 mil candidatos que prestaram a primeira fase da Fuvest tiveram média de acertos de apenas 20%.
Por que os alunos não aprenderam matemática? O problema pode ser do aluno. Uma parte dos adolescentes divide seu tempo entre o curso noturno e algum tipo de trabalho diário, seja gratuito (ajudando os pais), seja mal remunerado. Outros têm dificuldades na aquisição de material escolar ou são vítimas de deficiências nutricionais, que atrapalham a atenção e a concentração.
Mas a dificuldade também pode estar no professor. Como a carreira é pouco valorizada, em contraste com medicina ou engenharia, ela acaba sendo a opção de alunos menos preparados, que apresentam menor renda familiar e menor grau de instrução dos pais -como revela o perfil socioeconômico dos estudantes que se submeteram ao Exame Nacional de Cursos, o provão. Em 2001, a matemática era a disciplina com maior déficit de professores efetivos na rede estadual de São Paulo, de quase 10 mil docentes, o que é um sintoma do grau de precariedade do ensino ministrado aos adolescentes.
Por fim, talvez a dificuldade maior esteja na própria matemática. Além das divergências entre os métodos antigos e novos de ensinar a disciplina -basta lembrar a polêmica sobre a "matemática moderna"-, há uma exigência de abstração que perturba o senso comum. Veja-se o conceito de número, por exemplo. A maioria das pessoas tende a considerar o algarismo como um sinal de uma coisa concreta (uma laranja, duas laranjas), em vez de considerá-lo como algo abstrato, de valor posicional. Ora, se o conceito mais simples já é obscuro, o que dizer do resto?

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