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SURTO GOVERNAMENTAL
Ao que parece, o Planalto passa por um surto de hiperatividade e imaginação na tentativa de se
contrapor às más notícias acumuladas neste início de ano. A interrupção dos cortes nos juros, o caso Waldomiro Diniz e a constatação de que
o PIB encolheu em 2003 deixaram o
governo na defensiva, desagradaram
aos mercados e precipitaram o lançamento da "agenda positiva".
É na área macroeconômica que as
movimentações se mostram mais
controversas. Até aqui arquivada, ganhou projeção a tentativa de convencer o FMI a rever os critérios de cálculo do superávit das contas públicas,
com vistas a aumentar os investimentos em infra-estrutura. Até o
presidente da República entrou no
circuito, disparando ligações telefônicas para seus pares influentes, a
começar por George W. Bush.
Simultaneamente, o ministro Palocci anunciou que pretende adotar
novas regras para fixar as metas fiscais, condicionando-as ao crescimento econômico. Aparentemente,
no entanto, não se cogita da redução
da meta atual, de 4,25% do PIB
-mas apenas de seu aumento, caso
a economia venha a crescer.
Embora aumentar o investimento
público seja algo desejável, é preciso
recordar que o acordo com o FMI termina em setembro, sendo considerado oficialmente como "preventivo
e transitório". Prevendo-se que a mudança no cálculo dos superávits demandará tempo, é de perguntar o
motivo de tanto empenho. Além da
hipótese de jogo de cena, estaria o
governo julgando que precisará
prorrogar o acordo? A suposição torna-se verossímil quando se sabe que
subsiste a ameaça de novo abalo
cambial, a se materializar no momento em que os EUA elevarem sua
taxa juros, hoje em 1% ao ano. Essa
decisão tenderá a reverter o fluxo de
capitais para o Brasil -que tem ajudado a conter a cotação do dólar.
Certo, como esta Folha tem alertado, é que a política de juros para
cumprir as atuais metas de inflação,
aliada ao esforço fiscal, dificilmente
produzirá crescimento. Dada a fraca
base de 2003, deve-se obter alguma
expansão, mas seus efeitos poderão
ser mais estatísticos do que reais. É
essa a preocupação que deveria estar
no topo da agenda econômica.
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