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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Especulação versus produção
A CHINA deu um susto no
mundo. Com a economia
globalizada e os países interligados pelos computadores, a queda da Bolsa chinesa, em quase 9%,
provocou um grande solavanco em
todo o planeta na terça-feira.
É assim mesmo. Uma economia
que é forte para crescer 10,7% ao
ano é igualmente poderosa para
provocar grandes estragos.
No dia seguinte, esboçou-se a recuperação. Com o domínio do governo, os agentes econômicos que
operam na China foram levados a
comprar papéis em grande escala
na Bolsa de Xangai.
Outros solavancos poderão ocorrer. O ocorrido foi apenas uma
amostra da devastação que pode
ser transmitida às economias dos
países ricos e pobres em decorrência da mudança de humor dos investidores da China.
Mas quem freqüenta e navega no
mercado financeiro sabe disso.
Uma grande parte de seus ganhos é
proveniente de especulação e de
sorte. A outra parte é sustentada
pela economia real, ou seja, pelos
que investem na produção.
O mundo dos que produzem é
bastante diferente. A sorte é o ingrediente minoritário, e a especulação é absolutamente secundária.
Para ganhar na economia real, é
mister trabalhar muito; ter intuição na escolha do negócio; usar a
cabeça na seleção das tecnologias;
contar com profissionais competentes; investir na capacitação dos
colaboradores; e, no caso do Brasil,
estar preparado para entregar uma
grande parte do que produz ao governo e aos bancos.
São mundos diferentes. No da
especulação, domina a esperteza;
no da produção, corre o suor.
Veja o caso do Brasil. Do ponto
de vista da economia da especulação, os fundamentos estão sólidos.
Do ponto de vista da economia da
produção, a referida solidez é garantida pelo sacrifício da segunda.
O PIB cresceu apenas 2,9% no ano
passado.
Uma outra diferença importante
diz respeito à segurança do investimento. Quem investe em títulos
públicos em reais, dólar ou euro,
tem uma renda liquida de 8% ou
9% ao ano, com a vantagem de pular fora desse negócio da noite para
o dia, protegendo o principal e os
rendimentos.
Quem investe na construção de
uma fábrica ou na organização de
uma fazenda, assim como de um
hospital ou uma escola, além de ganhar muito menos e ter mais trabalho, fica sem mobilidade para pular
do barco que ameaça afundar.
Ocorre, porém, que a produção,
os impostos, as reservas cambiais,
a renda e o emprego vêm da economia da produção. Na outra, estão os
que jogam, perdendo hoje, lucrando amanhã -e sempre ganhando
no longo prazo. Até quando o mundo ficará separado pelas duas economias?
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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