São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Especulação versus produção

A CHINA deu um susto no mundo. Com a economia globalizada e os países interligados pelos computadores, a queda da Bolsa chinesa, em quase 9%, provocou um grande solavanco em todo o planeta na terça-feira.
É assim mesmo. Uma economia que é forte para crescer 10,7% ao ano é igualmente poderosa para provocar grandes estragos.
No dia seguinte, esboçou-se a recuperação. Com o domínio do governo, os agentes econômicos que operam na China foram levados a comprar papéis em grande escala na Bolsa de Xangai.
Outros solavancos poderão ocorrer. O ocorrido foi apenas uma amostra da devastação que pode ser transmitida às economias dos países ricos e pobres em decorrência da mudança de humor dos investidores da China.
Mas quem freqüenta e navega no mercado financeiro sabe disso.
Uma grande parte de seus ganhos é proveniente de especulação e de sorte. A outra parte é sustentada pela economia real, ou seja, pelos que investem na produção.
O mundo dos que produzem é bastante diferente. A sorte é o ingrediente minoritário, e a especulação é absolutamente secundária.
Para ganhar na economia real, é mister trabalhar muito; ter intuição na escolha do negócio; usar a cabeça na seleção das tecnologias; contar com profissionais competentes; investir na capacitação dos colaboradores; e, no caso do Brasil, estar preparado para entregar uma grande parte do que produz ao governo e aos bancos.
São mundos diferentes. No da especulação, domina a esperteza; no da produção, corre o suor.
Veja o caso do Brasil. Do ponto de vista da economia da especulação, os fundamentos estão sólidos. Do ponto de vista da economia da produção, a referida solidez é garantida pelo sacrifício da segunda.
O PIB cresceu apenas 2,9% no ano passado.
Uma outra diferença importante diz respeito à segurança do investimento. Quem investe em títulos públicos em reais, dólar ou euro, tem uma renda liquida de 8% ou 9% ao ano, com a vantagem de pular fora desse negócio da noite para o dia, protegendo o principal e os rendimentos.
Quem investe na construção de uma fábrica ou na organização de uma fazenda, assim como de um hospital ou uma escola, além de ganhar muito menos e ter mais trabalho, fica sem mobilidade para pular do barco que ameaça afundar.
Ocorre, porém, que a produção, os impostos, as reservas cambiais, a renda e o emprego vêm da economia da produção. Na outra, estão os que jogam, perdendo hoje, lucrando amanhã -e sempre ganhando no longo prazo. Até quando o mundo ficará separado pelas duas economias?

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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