São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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Hora da diplomacia

Governo da Colômbia errou ao violar soberania do Equador e precisa comprometer-se a não repetir o abuso

A COLÔMBIA deve uma explicação ao Equador -e à comunidade internacional- por ter violado o território equatoriano numa operação militar que resultou na morte de um dirigente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc.
Ninguém contesta a Bogotá o direito de perseguir membros das Farc como terroristas. Já faz tempo que essa organização, nascida como uma guerrilha de inspiração marxista, converteu-se numa súcia de bandoleiros que se financia com o tráfico de drogas e se dedica a seqüestrar cidadãos colombianos e estrangeiros, submetendo-os às piores provações durante anos.
O imperativo de enfrentar as Farc, contudo, não confere à Colômbia o direito de invadir um vizinho para capturar ou matar guerrilheiros, mesmo que eles montem os seus acampamentos do outro lado da fronteira. O único procedimento aceitável nesses casos é comunicar as autoridades vizinhas da presença de foragidos e aguardar que elas ajam ou autorizem a entrada das tropas colombianas.
Está correto o presidente equatoriano, Rafael Correa, ao exigir de seu colega Álvaro Uribe o firme compromisso de que operações como a do último sábado não se repetirão. Infelizmente, a Colômbia é reincidente nessa matéria. Em janeiro de 2005, agentes de Bogotá se envolveram no seqüestro de um dirigente das Farc que então vivia na Venezuela.
Propagado apenas depois da violação de fronteira, o argumento do governo Uribe, de que o Equador estaria dando refúgio aos membros das Farc, faz parte de uma manobra diversionista. Não é segredo que os narcoguerrilheiros, cada vez mais isolados na Colômbia, se aproximaram do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e no mínimo buscavam acolhida semelhante de Correa. O que permanece incerto é se essa relação rendeu às Farc financiamento e/ou refúgio por parte de Caracas e Quito.
Nas relações internacionais, a ordem dos procedimentos importa. Primeiro se denuncia à exaustão o suposto conluio; depois, se for o caso, parte-se para a ação. Mais à frente, num foro adequado, devem ser discutidas as provas que Bogotá afirma ter recolhido sobre uma aliança entre Chávez, Correa e as Farc contra o governo legítimo da Colômbia. Agora o momento é de sanar os estragos diplomáticos da violação de soberania cometida por militares colombianos.
Foi leviana, a propósito, a atitude de Chávez de enviar tropas para a fronteira com a Colômbia. Enquanto a diplomacia mundial se empenha em facilitar o entendimento entre a Colômbia e o Equador, o caudilho de Caracas conseguiu superar-se em termos de irresponsabilidade e tornou a situação ainda mais explosiva. Nessa crise, a palavra "guerra" saiu apenas de sua boca -e, claro, da pena ociosa do ditador aposentado Fidel Castro.
Se é pouco provável que essa crise degenere num conflito armado, é prudente preveni-lo. Cabe à diplomacia e aos chefes de Estado de países como Brasil, Argentina e Chile trabalhar para que a situação se normalize. O caminho é convencer Bogotá a reconhecer o erro e comprometer-se a não repeti-lo. Já os países vizinhos precisam auxiliar a Colômbia no combate às Farc. Nada justifica o apoio aberto ou velado a uma organização criminosa que seqüestra e assassina.


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