São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

Próximo Texto | Índice

ATÉ ONDE FOI A TRAMA?

As investigações da Polícia Federal acerca da gravíssima violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa caminham para o indiciamento do então ministro da Fazenda. Mas cabe perguntar se a implicação de Antonio Palocci Filho e do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso é bastante para esgotar o assunto ou se outros integrantes da cúpula do Executivo também cometeram desvios de função nesse lamentável episódio.
A hipótese a questionar é se a devassa na privacidade da testemunha que refutou Palocci -e/ou a tentativa posterior de acobertá-la- teria envolvido o Ministério da Justiça. A indagação se baseia no fato de um assessor do ministro Márcio Thomaz Bastos ter estado na casa do titular da Fazenda na noite em que a obtusa estratégia para coagir Francenildo foi definida. No dia seguinte (17 de março), extratos bancários do caseiro foram divulgados pela revista "Época".
Thomaz Bastos afirma que sempre atuou no episódio dentro das prerrogativas do cargo. Diz que não teve conhecimento naquela noite da ida do auxiliar à casa de Palocci -o titular da Justiça estava em Rondônia-; que para lá o assessor se dirigiu unicamente com o fito de atender a um chamado do ministro da Fazenda.
Já o subordinado de Bastos diz que, na casa, os extratos do caseiro não lhe foram mostrados; que Palocci e Mattoso trataram em privado, dentro de um escritório. Nessa versão, a participação do funcionário do Ministério da Justiça teria se resumido a receber um pedido de Palocci para que a Polícia Federal abrisse uma investigação contra Francenildo.
Até aqui, não há fatos nem depoimentos capazes de abalar a narrativa do ministro da Justiça. Mas a história tem algumas facetas inverossímeis, a começar dessa participação seletiva do assessor de Bastos -que seria o único a não delinqüir nem tomar ciência de delito numa residência em que os demais urdiam um crime.
Além disso, a versão supõe que Palocci e Mattoso consumiram dez dias sem dizer a ninguém no governo o que de fato havia ocorrido. Até para que não reste a menor dúvida sobre as alegações do ministro da Justiça, as investigações devem ser exaustivas nesse ponto.


Próximo Texto: Editoriais: DESAFIOS DE KASSAB
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.