São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O Brasil e a Alca

PEDRO CORRÊA

Seria no mínimo tendencioso não reconhecer os méritos do atual governo no tocante à gestão macroeconômica. Soaria falso também o esquecimento de que o nosso país, durante longos anos, não criava as pré-condições indispensáveis para sua inserção de forma respeitável na comunidade internacional. Esse mérito cabe ao presidente Lula, ao ministro Palocci e à sua equipe.
É lícito também, diante da realidade concreta, ouvindo a sociedade civil e lúcidos formadores de opinião, compreender que se tornam urgentes e indispensáveis os projetos e programas estruturadores que reponham a credibilidade no desenvolvimento do país em taxas compatíveis com os mais legítimos anseios da nação.
Na busca desse objetivo, sente-se, honestamente, que se forma um vazio, um vácuo capaz de desestimular os investimentos. Se a credibilidade no equilíbrio das nossas contas públicas é premissa fundamental, o enfraquecimento do mercado interno e a visível e comprovada queda do poder de compra da população são desestimulantes.


Milagres não existem, e o governo deve entender que chegou ao limite a extração de impostos da sociedade


Várias são as formas das críticas, umas mais ácidas, outras mais contundentes e muitas construtivas. Fatores políticos somam-se a essa realidade econômica, e estes atingem diretamente a opinião pública, podendo levar à sensação de que existem riscos de governabilidade. Não seria demasiado verificar os excessos praticados por movimentos radicais em nome da indispensável e inadiável reforma agrária, desvirtuando-a e levando ao quadro atual de absoluta insegurança no campo brasileiro, o que, mais cedo ou mais tarde, dificultará a atividade produtiva no setor hoje tão importante para o crescimento da nossa economia e para as exportações.
A notória insegurança nos grandes centros urbanos ultrapassa qualquer razoabilidade.
Diante de tamanha dificuldade, é necessária uma análise sensata, serena e construtiva em substituição ao emocionalismo que atualmente preside parcela ponderável das opiniões e análises.
Movido por essas razões, o Partido Progressista está promovendo hoje e amanhã um seminário, na capital de São Paulo, para discutir as questões econômicas e sociais, propor alternativas, analisar passos indispensáveis -como, por exemplo, a participação do Brasil na Alca e nos mercados globais, o fortalecimento do Mercosul- de forma absolutamente isenta de qualquer viés ideológico. Em última análise, focar e discutir a nossa competitividade.
Estarão presentes ao evento especialistas de vários países, inclusive do México e do Canadá, que relatarão os efeitos da criação do Nafta em suas sociedades. Estaremos discutindo rumos para a melhor forma de participação do Brasil na Alca e estudando os acordos bilaterais que já estão em andamento.
É importante salientar que o apoio político de todos os partidos a esse evento abre novos tempos para uma aproximação ainda maior entre o empresariado brasileiro e o governo, para deslanchar com mais robusteza o comércio internacional do Brasil.
As lições estão sendo dadas pelo agronegócio. A visão dinâmica dos deputados do PP que ocuparam a pasta da agricultura nos últimos governos foi uma semente fecunda plantada no país e hoje estamos colhendo bons frutos do campo. A contribuição do agronegócio no PIB brasileiro, que chega à casa dos 30%, tem impressionado. As exportações agropecuárias batem recordes a cada semestre e ocupamos papel de destaque nas exportações internacionais de carne. As exportações da soja têm provocado congestionamento nas estradas e nos portos e, ainda, aberto novos bolsões de riquezas no país.
Revendo a história das exportações brasileiras de commodities, observa-se que, em várias situações, os concorrentes internacionais nos trouxeram maus momentos, como foi o caso com o açúcar, tabaco, cacau, café etc.
A competitividade de vários produtos brasileiros está comprometida pela deficiência da infra-estrutura de armazenamento e transporte, precisa ser modernizada ou totalmente reconstruída. Os portos exigem pesados investimentos para capacitá-los a receber navios maiores e agilizar suas operações. Não se pode ter produção exportável de qualidade e em quantidade sem mudar o perfil vergonhoso da distribuição de renda em nosso país.
Milagres não existem, e o governo deve entender que chegou ao limite a extração de impostos da sociedade. As demandas por ações sociais são crescentes e aumentam na medida em que o país mergulha na globalização. As desigualdades não podem aumentar. Esse quadro perverso pode ser revertido se trabalharmos com criatividade, parcerias firmes, respeito à propriedade privada e aos compromissos firmados. É necessário que haja crescimento e fortalecimento do mercado interno em harmonia com o crescimento do mercado externo. Aumento de renda e emprego será conseqüência lógica desse processo.
No seminário Desafios do Brasil no Mercado Global, primeiro passo do Compete Brasil - Movimento pela Competitividade das Empresas Brasileiras, o PP, com coragem e ousadia, oferece à sociedade brasileira, aos empresários e aos políticos de todos os partidos uma alternativa que, sem dúvida, contribuirá para a retomada auto-sustentável do nosso crescimento. Precisamos encarar a Alca ou acordos bilaterais de comércio como uma parceria em que todos precisam ganhar.

Pedro Corrêa, 56, médico, é presidente do PP (Partido Progressista) e deputado federal por Pernambuco.


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