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ANTONIO DELFIM NETTO
Aproveitar a hora
A semana passada assistiu a dois
fatos da maior importância para
o futuro da política econômica brasileira. Na sua forma coloquial e espontânea, o presidente Lula reafirmou a
sua "crença" nas virtudes, a longo prazo, da orientação que tem sido imprimida pelo ilustre ministro Palocci. A
sua defesa intransigente da política e a
sua demonstração de confiança absoluta no ministro é o "garante" de sua
continuidade. O segundo fato foi a irritação de toda a sociedade em relação
à política de juros realizada pelo Banco Central -que nem o presidente é
capaz de amenizar.
A verdade nua e crua é que, com exceção do período de transição presidencial, quando parecia que iríamos
perder o controle da inflação (em novembro/dezembro de 2002, últimos
meses de FHC, a inflação anualizada
tinha retornado a 35%), a política monetária tem tido efeito imperceptível
sobre a evolução do IPCA. Naquele
período, o resultado foi brilhante: com
a Selic passando de 18% para 26,3% e
o superávit primário sendo elevado de
3,25% para 4,25% do PIB, a taxa de inflação anual declinou rapidamente
para a sua média anual. A prova disso
é que o IPCA anual médio de 7,2%
(entre julho/99-outubro/02) compara-se com o IPCA médio anual de
6.8% entre outubro/03-março/05. O
que houve foi um progresso na variância do índice, mostrando uma certa "convergência" construída pelo estabelecimento dos preços e das remunerações no mercado, mas não propriamente para as "metas".
É aqui que reside o problema. A defesa entusiasmada da política econômica feita pelo senhor presidente revelou que, no fundo, ele não acredita
nos efeitos perversos (sem benefício
visível para a taxa de inflação) sobre o
crescimento do PIB e do emprego. Paradoxalmente, a ampliação do crédito
aos consumidores (cooperativas, consignado, para aposentados etc.) com
taxas de juros declinantes devido ao
aumento da competição bancária corrigiria os efeitos procurados pela política do Banco Central, garantindo o
crescimento robusto do PIB e do emprego em 2005. Se isso fosse verdade, o
único prejudicado pela esquizofrenia
do Banco Central seria o Tesouro, que
pagaria mais juros...
Lamentavelmente, o efeito acumulado dos juros terá conseqüência sobre o nível da atividade e do emprego
(porque é para isso que é feito!), e o
enorme diferencial de juro real interno e externo continuará a valorizar o
câmbio, prejudicando os novos investimentos em exportação. Quando isso
for visível em 2006, insistirá o senhor
presidente na perigosa teoria de que o
"câmbio não tem importância"?
É hora, portanto, de uma mudança
radical no "mix" da política econômica. Vamos 1º) cortar as despesas, reduzir o grau das vinculações orçamentárias e eliminar o déficit nominal, 2º) reduzir rapidamente os juros,
produzindo uma desvalorização do
real, e 3º) eliminar os impostos sobre
os investimentos e acelerar a criação
de zonas especiais de exportação.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
@ - dep.delfimnetto@camara.gov.br
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