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Riscos mais à frente
O grau de investimento leva euforia a mercados, mas crescimento de passivo externo exige atenção de autoridades
OS INVESTIDORES domésticos e internacionais
correram às compras
de papéis brasileiros.
Esse foi o efeito imediato e previsível da decisão da Standard &
Poor's que elevou a grau de investimento sua classificação de
risco acerca da dívida pública
brasileira. A Bovespa atingiu recordes de valorização.
O selo de investimento seguro
estimula a entrada de recursos
externos e, assim, tende a facilitar o financiamento da dívida
pública e do investimento privado. Espera-se, em médio prazo,
redução dos juros domésticos e
sua convergência com os praticados no exterior.
Esses fatores favoráveis, contudo, devem ser matizados. No
curto prazo, juros domésticos
ainda elevados podem atrair um
fluxo de capitais especulativos e
desencadear um novo ciclo de
valorização do real. Se a ascensão
da moeda nacional favorece o
controle da inflação, reduz a
competitividade da economia
brasileira, com repercussões deletérias nas contas externas.
Impulsionado pela forte queda
da diferença entre exportações e
importações, o saldo em transações correntes com o restante do
mundo se deteriora em velocidade surpreendente. No primeiro
trimestre registrou déficit de
US$ 10,7 bilhões.
Segundo o Iedi ("think tank" ligado à indústria), o superávit comercial do setor fabril, que caiu
de US$ 29,8 bilhões em 2006 para US$ 18,8 bilhões em 2007,
vem sendo obtido graças a exportações de baixa intensidade
tecnológica. No segmento de alta
tecnologia houve déficit de US$
14,8 bilhões em 2007, ao passo
que o setor de média-alta tecnologia (em que está o complexo
automobilístico) ficou negativo
em US$ 10,3 bilhões.
O financiamento imediato do
déficit em transações correntes
não parece problemático. Pode
ser realizado com o fluxo de investimento direto, a entrada de
capital de curto prazo destinado
à compra de ações na Bovespa e
de títulos públicos, e a contratação de novas dívidas. Mas é preciso atentar para a evolução, a
médio prazo, dos estoques de ativos internos e externos do país.
A dívida externa total do país
voltou a subir. Aumentou de US$
215,5 bilhões em março de 2007
para US$ 254 bilhões em março
de 2008, acréscimo de quase US$
40 bilhões. Essa dívida responde,
porém, apenas por uma parte do
passivo externo da economia
brasileira -ou seja, do conjunto
de compromissos em moeda estrangeira. Este monta a US$
885,2 bilhões, de acordo com o
dado mais recente divulgado pelo BC, de setembro de 2007. O
ativo externo (os investimentos
de brasileiros no exterior, incluindo reservas internacionais)
alcança US$ 342,1 bilhões. O resultado é um passivo externo líquido de US$ 543,1 bilhões.
Obter moeda estrangeira em
escala e velocidade suficientes
para arcar com essa posição externa negativa será crucial para
evitar, no futuro, rupturas dramáticas como as que vivenciamos reiteradas vezes nas últimas
décadas. Isso requer atenção para o patamar da taxa de câmbio,
bem como políticas agressivas de
fomento às exportações.
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