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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O indiscutível valor do Senai
O CAPITAL mais precioso para o desenvolvimento de
qualquer atividade produtiva é o talento dos seus protagonistas. Nos dias de hoje, isso foi potencializado pela impressionante velocidade das inovações nas tecnologias e nos métodos de produção.
Os países precisam de profissionais bem formados e capazes de
acompanhar as mudanças. Isso
equivale a dizer que os preparadores dos novos talentos têm um
papel estratégico.
Nesse contexto, preocupam-me
os indícios de um certo intervencionismo estatal no trabalho do Senai. Leio na imprensa que o governo federal cogita formar um fundo
com os recursos daquela entidade,
passando para o poder público e
um conselho tripartite a definição
de prioridades, de currículos e de
quem deve ser capacitado. Mais
um fundo? Mais um conselho?
Vejo riscos nessa estratégia. As
burocracias governamentais não
conhecem as tecnologias e as necessidades dos sistemas de produção, que mudam a cada dia. Isso
não é crítica, mas apenas o reconhecimento de que esse acompanhamento não faz parte do dia-a-dia da administração pública. Nesse campo, a participação direta de
quem usa as tecnologias e contrata
os profissionais é fundamental.
Nos meus 60 anos de trabalho,
tive um excelente relacionamento
com o Senai. Em um país de tantas
deficiências educacionais, o Senai
deu uma colaboração decisiva para
a formação do parque industrial
brasileiro -um dos mais ricos patrimônios da nação. É entusiasmante também ver o desempenho
dos seus alunos nas competições
internacionais, onde sempre conquistam os primeiros lugares.
O segredo do sucesso do Senai
está no fato de a entidade ter autonomia e ser orientada pelos que sabem o que precisa ser ensinado e
quais os requisitos para um bom
aproveitamento.
A cogitada idéia de substituir essa autonomia por um fundo público e um conselho desconhecido é
preocupante. O uso de mecanismos burocráticos para decidir o
que ensinar chega a dar arrepios. E
a proposta de afastar o Senai da sua
missão central, que é a de formar
talentos industriais, é um desatino.
O presidente Lula -como ex-aluno do Senai- conhece bem a
necessidade de uma preparação
bem ajustada ao mundo do trabalho. Isso é fundamental para os
produtores e para os trabalhadores. Com a vivência de operário industrial especializado e administrador de uma das maiores nações
do mundo, ele saberá instigar a
correção de eventuais problemas,
preservando, porém, a comprovada eficiência da entidade em mais
de meio século de existência.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES 0 escreve aos
domingos nesta coluna.
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