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Partidos em crise
A sensação de quem olha a situação das duas legendas que renovaram a representação política no Brasil é de desalento
NÃO HÁ registro de um
processo eleitoral, no
ciclo recente de democratização, em que
o papel dos partidos enquanto
vetores da representação popular tenha estado tão apagado e
relegado a segundo plano como
agora. O descrédito no PT e a sua
desarticulação só fizeram crescer com os escândalos de corrupção dos últimos meses; falta ação
coletiva da parte de destacadas
lideranças tucanas; não há sinal
de renovação na vida partidária.
À diferença do que ocorreu em
muitos países latino-americanos, o Brasil não passou por nenhuma crise institucional ligada
à insuficiência de representação
dos partidos nas últimas duas
décadas. Aqui a vida partidária
foi se renovando em relação à
que prevalecia durante o regime
militar, mas num processo paulatino e sem traumas, que contribuiu para fortalecer e prestigiar
as instituições democráticas.
O impeachment de Fernando
Collor de Mello e o advento do
Plano Real, sob os auspícios do
então ministro Fernando Henrique Cardoso, redundaram na
emancipação do PSDB -criado
em 1988, a partir de dissidência
do PMDB- como um dos principais partidos brasileiros.
Enquanto FHC era eleito e
reeleito, o PT aumentava a sua
presença em prefeituras, governos estaduais e no Legislativo. O
ano de 2002 coroou a trajetória
petista com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. No mesmo ano,
o PSDB lograva conquistar o governo de Minas Gerais e manter
o de São Paulo -os dois principais colégios eleitorais do país.
Quatro anos depois, a sensação
de quem olha a situação dos dois
partidos que renovaram a representação política no Brasil é de
desalento. Os escândalos do
mensalão e do caseiro Francenildo Costa destruíram a cúpula do
PT e derrubaram ou enfraqueceram as principais lideranças petistas no governo. Restou o emblema de Lula -candidato cada
vez mais de si mesmo-, a adesão
a um getulismo vulgar, a um
messianismo que prescinde de
organizações partidárias e discussões programáticas.
Apenas 1% dos eleitores que
declararam intenção de votar em
Lula, de acordo com o Datafolha
mais recente, justifica sua preferência pelo fato de ele ser do PT.
O bom desempenho do presidente nas pesquisas não se traduz em boas perspectivas para o
seu partido nos pleitos estaduais.
Do lado tucano, a desagregação
tem outra causa: a baixa capacidade da legenda de atuar como
corpo coletivo na campanha ao
Planalto. De olho em 2010 -e
diante do desempenho modesto
de seu candidato nas pesquisas
até agora-, luminares do partido
não prestigiam a candidatura de
Geraldo Alckmin, contribuindo
para fragmentar a sigla.
Se o refluxo de PT e PSDB como instâncias de representação
popular viesse seguido da emergência de uma outra sigla, não
haveria motivo para preocupação. O PFL, porém, tem dificuldade enorme para alçar vôo solo
na política nacional, e o PMDB
está mais desorientado do que
nunca. É triste constatá-lo, mas a
democracia brasileira ameaça,
nesse quesito, dar um passo atrás
nas eleições de outubro.
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