|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ALBA ZALUAR
Dissuasão e persuasão
DEZESSETE PESSOAS mortas, dezenas de feridos em
operação "de guerra" no
complexo de Alemão, conjunto de
favelas do Rio de Janeiro que abriga principalmente migrantes de
outros Estados.
Poucos dos mortos e feridos têm
a ver com a guerra entre policiais e
bandidos. São crianças, mães de família, aposentados, estudantes as
vítimas inocentes dessa "guerra"
contra um inimigo interno.
Parte da cidade assiste perplexa
a essa operação, já repetida em outras favelas em diferentes datas,
sem que o domínio que traficantes
bem armados exercem sobre elas
realmente acabasse. Uma vez finda
a operação de guerra, outros traficantes do mesmo ou de outro comando sempre reassumem seus
postos e voltam a dominar tudo.
Clóvis Rossi tocou em ponto fundamental desse aparente beco sem
saída. Por que o Exército brasileiro
não atua aqui como no Haiti?
Já que é uma operação militar,
diz a boa estratégia que, antes de
tudo, se tenta dissuadir o inimigo
de lutar. De duas formas.
Uma, pela superioridade militar,
que faz o inimigo se render e passar
a negociar a paz. Só o Exército brasileiro é capaz de assegurar essa superioridade com sua mera presença. A Polícia Militar não tem efetivo nem armamento para tal.
Outra, pela persuasão, que ganha
politicamente o conflito perante a
população civil e desarmada que
vive no local e que nada tem a ver
com o conflito armado, assim como a população da cidade, do país,
do mundo.
Também no Haiti o Exército
brasileiro tem feito suas operações
baseado em projetos de negociação
política com os moradores das
áreas conflagradas. Caso apóiem a
operação e ajudem o desarmamento e a pacificação das quadrilhas, os
moradores recebem bolsas de estudo, cursos profissionalizantes e
outros benefícios para o local.
Por que não se faz o mesmo na cidade brasileira mais visada pela
opinião pública nacional e internacional? Por que não se tenta primeiro ganhar politicamente os sofridos favelados dessas áreas antes
de deixá-los ainda mais expostos
ao tiroteio?
Desse modo se evitaria o confronto armado em áreas densamente povoadas por crianças, jovens, adultos e idosos que não seguem nenhuma carreira criminosa. Pelo contrário, pagam impostos
e são cidadãos brasileiros, mas tiveram a condição de pobre piorada
pela tirania e pelo tiroteio de dois
fogos: o dos traficantes e o dos policiais militares. E suas baixas expectativas de vida pioram os índices que colocam o Brasil na rabeira dos
países em desenvolvimento. Quem
ganha com esse opróbrio nacional?
Que o Haiti seja aqui.
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Anjo em Los Angeles Próximo Texto: Frases
Índice
|