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RUY CASTRO
Irmão de Nelson
RIO DE JANEIRO - O jornalista
Mario Filho teria feito 100 anos ontem. É menos lembrado do que merece, e a posteridade não o tem tratado como a seu irmão Nelson Rodrigues. Mas, em vida, Mario foi tão
célebre quanto Nelson, e seu índice
de rejeição era zero. Todos o admiravam e lhe estendiam tapetes vermelhos, que ele atravessava com as
sobrancelhas tesas, o charuto na
boca e um exemplar do seu "Jornal
dos Sports" dobrado em quatro no
bolso do paletó.
De 1926 em diante, Mario inventou quase tudo na crônica esportiva. Foi o primeiro a sacar que, se havia um jogaço de futebol no domingo, por que não falar dele desde a segunda-feira anterior? Era só passar
a semana entrevistando e fotografando os jogadores, fazendo suspense, dramatizando o espetáculo.
Foi Mario quem, em 1935, conferiu
ares de eternidade ao Fla-Flu. E foi
também quem fez do passado do futebol um épico, um episódio da história -mesmo que o fato que estivesse narrando tivesse se dado
na véspera.
Sem Mario, o Maracanã não teria
sido no Maracanã, mas em Jacarepaguá, então mais longe que Deus-Me-Livre. Em 1951 e 1952, o estádio
sediou as duas únicas edições da
Copa Rio, criada por ele, reunindo
os grandes times do mundo e vencidas, na ordem, por Palmeiras e Fluminense. Era um cartola sem pasta
do futebol, mas benigno.
E não só do futebol. Em 1932, foi
o criador do concurso das escolas
de samba no Carnaval. Criou também os Jogos da Primavera e os Jogos Infantis, promoveu o remo e o
jiu-jitsu, escreveu livros. Com "O
Negro no Futebol Brasileiro", pensou que fosse entrar para a Academia Brasileira de Letras. Mas não
teve tempo de se candidatar.
Não o conheci. Morreu em 1966,
um ano antes que eu começasse em
jornal. Tinha apenas 58 anos, idade
ridícula para pegar o boné.
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