São Paulo, sábado, 04 de junho de 2011

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RUY CASTRO

Amado para sempre

RIO DE JANEIRO - Amanhã, no Engenhão, veremos as últimas cenas de uma história de amor envolvendo um homem e quase 40 milhões de pessoas: o jogador Petkovic e a torcida do Flamengo.
Uma história que se contou em dois atos (suas duas passagens pelo clube em dez anos), divididos em 197 quadros (o número de partidas que disputou), e que produziu 57 clímaxes e apoteoses -os gols que marcou pelo rubro-negro. Muitos desses gols (olímpicos, cobrando falta, trocando passes) significaram títulos, um deles o do hexa brasileiro do Flamengo, em 2009.
Aos 38 anos, Petkovic encerra sua carreira como atleta. E é apenas condizente que, sem jogar há meses, sua despedida se dê num Flamengo x Corinthians a valer três pontos, pelo Brasileirão, não num amistoso regado a oba-obas. Petkovic foi profissional em cada segundo de sua vida no futebol. Todo clube deveria ter um homem como ele em seus quadros, para servir de exemplo aos mais jovens.
Aos 43 do segundo tempo de um Flamengo x Vasco decisivo, no dia 27 de maio de 2001, ele alterou o pulso nacional. Foi quando marcou o gol de falta que deu ao Flamengo seu quarto tricampeonato carioca. Ao ver a bola entrar, saiu correndo rumo à lateral, estacou e caiu de costas -a entrega total, a certeza de que a vida já não lhe devia nada, de que seria amado para sempre.
Naquele segundo, eu estava em meio a uma roda de torcedores ouvindo o jogo por um radinho de pilha, em plena Bienal do Livro, no Riocentro. Nosso grito de gol ecoou e foi amplificado pela Bienal inteira. Os graves escritores internacionais, absortos em suas conferências, ouviram o urro coletivo, levantaram os sobrolhos e não entenderam nada. Entenderam ainda menos ao ver o estouro da boiada, os torcedores em volta olímpica, cantando e correndo entre os estandes. Muitos, de repente, vestidos de Flamengo. Como eu.


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