São Paulo, Sexta-feira, 04 de Junho de 1999
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DESINTELIGÊNCIAS FEDERAIS

Crise, rusga, tremor. Foram esses os termos usados pelo ministro da Justiça, Renan Calheiros, para caracterizar o relacionamento entre a Polícia Federal, a ele subordinada, e o setor de inteligência do governo federal, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), ambas na prática sob o comando do general Alberto Cardoso, chefe da Casa Militar da Presidência da República.
As desinteligências que o ministro agora reconhece entre os órgãos de segurança federais não são novas, além de se reproduzirem também no interior da própria PF, marcada por divisões internas em grau exacerbado, o que só agrava a situação.
O problema, ou conjunto de problemas, se arrasta, a bem dizer, desde o início do primeiro mandato de FHC, quando agentes federais estiveram envolvidos no grampo do caso Sivam, sem que se tenha visto até o momento empenho maior por parte do Executivo para dirimi-lo.
Pelo contrário, a criação da Senad, em meados do ano passado, acirrou a disputa pelo combate às drogas dentro do governo. Em tese, o novo órgão deveria, além de cuidar da prevenção e da recuperação de dependentes, coordenar a repressão ao tráfico, tarefa atribuída originalmente à PF pela Constituição. Além de espaço por poder, estão em jogo recursos nada desprezíveis, nacionais e sobretudo internacionais, à disposição de quem assume o combate ao tráfico.
Um assunto dessa importância não pode continuar à mercê de querelas entre grupos e órgãos públicos. Acresce a esse problema a existência da Abin, versão atualizada do extinto SNI, cuja criação ainda não foi sancionada pelo presidente e cujas atribuições são por ora um tanto nebulosas. Alguns de seus quadros, no entanto, são hoje suspeitos de estar envolvidos no grampo do BNDES, o que constitui motivo a mais para que se pense a respeito da utilidade desse órgão num regime democrático.


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