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EXPORTAÇÕES EM RISCO
A advertência do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) de que as exportações brasileiras começam a ser afetadas pela recente valorização do real merece
atenção. Descontando os efeitos sazonais, o instituto estima que as exportações de junho tenham sido
7,4% inferiores às de maio.
Ponto frágil da economia brasileira, as contas externas têm apresentado melhora considerável. Estimuladas pela forte alta do dólar em 2002,
as exportações e a substituição de
importações geraram superávit comercial de mais de US$ 20 bilhões
nos últimos 12 meses. O arrefecimento das importações, num quadro de desaquecimento econômico,
contribuiu para o saldo. Essa redução da chamada vulnerabilidade externa foi fundamental para que empresas e bancos voltassem a ter acesso ao mercado financeiro mundial.
É preciso, no entanto, criar condições para que esse cenário evolua.
Políticas que aumentem a oferta de
crédito aos exportadores e minorem
a carga fiscal sobre as exportações
são desejáveis -assim como o estímulo à produtividade das empresas e
à venda de produtos mais sofisticados. Há, porém, outro elemento básico nessa equação: o câmbio.
É difícil dizer ao certo qual a taxa de
câmbio ideal, que beneficie as exportações, mas não torne proibitivos a
importação e o pagamento de compromissos em dólar. Assiste-se recentemente a uma considerável valorização do real. Embora surja aos
olhos de muitos como uma "conquista", ela resulta de uma situação
mais ampla. Como escreveu o economista Delfim Netto no jornal "Valor", estamos "surfando" numa onda de capitais de curto prazo que,
diante da baixa remuneração nos
países ricos, encontram aqui ótimas
oportunidades. De janeiro a junho, o
Brasil propiciou ganhos de 44%, em
dólar, ao investidor estrangeiro.
É impossível desconsiderar os riscos desse quadro. O Banco Central
começa, timidamente, a dar indicações de que pode usar mais ativamente os instrumentos de que dispõe para impedir a excessiva valorização do real. É preciso, de fato, estar
alerta para que o setor exportador
-um dos poucos ainda em movimento no atual quadro de estagnação- não venha a ser atingido de
forma danosa para o país.
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