UOL




São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

Próximo Texto | Índice

EXPORTAÇÕES EM RISCO

A advertência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de que as exportações brasileiras começam a ser afetadas pela recente valorização do real merece atenção. Descontando os efeitos sazonais, o instituto estima que as exportações de junho tenham sido 7,4% inferiores às de maio.
Ponto frágil da economia brasileira, as contas externas têm apresentado melhora considerável. Estimuladas pela forte alta do dólar em 2002, as exportações e a substituição de importações geraram superávit comercial de mais de US$ 20 bilhões nos últimos 12 meses. O arrefecimento das importações, num quadro de desaquecimento econômico, contribuiu para o saldo. Essa redução da chamada vulnerabilidade externa foi fundamental para que empresas e bancos voltassem a ter acesso ao mercado financeiro mundial.
É preciso, no entanto, criar condições para que esse cenário evolua. Políticas que aumentem a oferta de crédito aos exportadores e minorem a carga fiscal sobre as exportações são desejáveis -assim como o estímulo à produtividade das empresas e à venda de produtos mais sofisticados. Há, porém, outro elemento básico nessa equação: o câmbio.
É difícil dizer ao certo qual a taxa de câmbio ideal, que beneficie as exportações, mas não torne proibitivos a importação e o pagamento de compromissos em dólar. Assiste-se recentemente a uma considerável valorização do real. Embora surja aos olhos de muitos como uma "conquista", ela resulta de uma situação mais ampla. Como escreveu o economista Delfim Netto no jornal "Valor", estamos "surfando" numa onda de capitais de curto prazo que, diante da baixa remuneração nos países ricos, encontram aqui ótimas oportunidades. De janeiro a junho, o Brasil propiciou ganhos de 44%, em dólar, ao investidor estrangeiro.
É impossível desconsiderar os riscos desse quadro. O Banco Central começa, timidamente, a dar indicações de que pode usar mais ativamente os instrumentos de que dispõe para impedir a excessiva valorização do real. É preciso, de fato, estar alerta para que o setor exportador -um dos poucos ainda em movimento no atual quadro de estagnação- não venha a ser atingido de forma danosa para o país.


Próximo Texto: Editoriais: À ESPERA DE AÇÕES
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.