São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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Vitória contra as Farc

Uribe desfechou outro golpe na guerrilha e com isso se cacifa ainda mais para concorrer a um terceiro mandato

A ESPETACULAR libertação de 15 reféns em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) representa uma tremenda vitória militar e política para o presidente Álvaro Uribe. Significa ainda uma derrota para o líder venezuelano, Hugo Chávez, e seus aliados, que apostavam na crise dos reféns para enfraquecer Uribe e sua política de colaboração com os EUA.
A operação que resultou na libertação foi um raro sucesso. Sem disparar um único tiro, o Exército colombiano conseguiu tirar do cativeiro a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt e mais 14 pessoas, incluindo três norte-americanos.
Como costuma acontecer nessas operações, há dúvidas sobre aspectos da versão apresentada pelo governo colombiano. Também causou espécie a presença no país do candidato republicano à Presidência dos EUA, John McCain, que terá se beneficiado pela associação de sua visita com o resgate.
Nada disso, porém, basta para alterar o resultado final: Uribe desfechou outro duríssimo golpe nas Farc e com isso se cacifa politicamente ainda mais para mudar a Constituição e concorrer a um terceiro mandato em 2010. Os dissabores que o presidente vinha experimentando no Congresso e no Judiciário tendem agora a tornar-se irrelevantes.
Uribe já vinha com taxas de aprovação popular superiores a 80%, principalmente por conta de suas vitórias sobre as Farc e da redução da criminalidade urbana. A libertação de Ingrid, que se tornara o símbolo da crueldade da guerrilha, reforça ainda mais a imagem de Uribe como homem que controlou a violência -um formidável trunfo eleitoral num país que vem há meio século sendo devastado por bandos criminosos.
É inegável também que o Plano Colômbia, a ajuda financeira e militar dos EUA para combater o narcotráfico, a guerrilha e os paramilitares, foi fundamental para o sucesso. Os "paras" e as Farc vivem seus estertores. Paradoxalmente, é o narcotráfico, principal alvo de Washington, que dá sinais de resistência.
Segundo o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime a área de plantio de coca na Colômbia cresceu 27% de 2006 para 2007. É um resultado bastante ruim quando se considera que, de 2001 até hoje, Washington já despejou ao menos US$ 5,5 bilhões no país sul-americano para financiar operações de extermínio de plantações e repressão a cartéis.
Espera-se que Uribe resista à tentação de mais uma vez redesenhar as instituições em seu próprio favor. Se desistir por aqui, passará à história como o presidente que conseguiu derrotar os bandos armados. Se insistir em ficar, adentrará o imponderável e estabelecerá um péssimo precedente para a democracia no continente.


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