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ELIANE CANTANHÊDE
As Farc morreram? Vivam as Farc!
BOGOTÁ - As Farc capazes de delimitar território, criando um Estado dentro do Estado colombiano no governo Andrés Pastrana, já não
existem mais. A falta de direção política e de apoio internacional causaram desorientação, fraturas nas
lideranças, sucessivas derrotas e a
morte de seus nomes mais consagrados. O resgate de Ingrid Betancourt e de 14 outros reféns, anteontem, foi um xeque-mate, com requintes de humilhação.
Pelo relato factual, os reféns que
mais interessavam (a jóia da coroa,
os três americanos e os 11 policiais e
militares colombianos) foram reunidos e retirados espetacularmente, sem um único tiro e sem uma gota de sangue, num helicóptero sugestivamente branco. Simples assim? Como foi possível?
É certo que houve infiltração de
experts em inteligência nas Farc e
participação decisiva dos EUA, mas
falta um elo: a cooptação de líderes
de primeira grandeza.
Manuel Marilanda, o "Tirofijo",
morreu; Raúl Reyes explodiu no
Equador; Nelly Ávila, a "Karina", se
entregou; um guarda-costas assassinou Ivan Ryos. Sobram peões, alçados à condição de reis e rainhas já
sob a "ideologia" do narcotráfico e
que bem podem trair. Serão os próximos a cair. Ou a entregar.
E Álvaro Uribe, que acabou com a
brincadeira e com as áreas desmilitarizadas, como vai agir? Se depender do comando maior, Ops!, dos
aliados norte-americanos, chegou a
hora de estraçalhar o que resta da
guerrilha, mesmo sob risco de 500
reféns, 25 deles políticos. Mas Brasil, Argentina, Venezuela e Equador
preferem outro caminho: o da vitória negociada, também sem tiros e
sem sangue. Derrubar o rei, não incendiar o tabuleiro.
Depende igualmente do que sobra das Farc. Se ideologia e unidade
se esfacelaram, ainda restam interesses poderosos e muito dinheiro.
As Farc viraram "narco-guerrilheiras". Agora, vão-se os guerrilheiros,
fica só o narcotráfico. E ainda por
muito e muito tempo.
elianec@uol.com.br
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