São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2001

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Pedro Aleixo. Centenário(1901-2001)

No dia 1º de agosto, celebrou-se, no Brasil, o centenário do nascimento de Pedro Aleixo, no distrito de São Sebastião, hoje Bandeirantes, em Mariana (MG). Sua vida ficou marcada por hábitos simples, pela firme fé cristã, pelo amor à família, pela dedicação ao estudo, ao ensino e ao exercício do jornalismo e da advocacia, pela promoção dos pobres, das crianças e dos enfermos e pela intensa militância política a serviço do bem comum.
Do matrimônio com dona Maria Stuart Brandi Aleixo, teve quatro filhos: Maurício, José Carlos, Sérgio e Heloísa. Formado em direito, mais tarde professor catedrático de direito penal, ocupou cargos dos mais relevantes no Estado de Minas e no país: vereador em Belo Horizonte (1927-30), membro da Assembléia Constituinte (1933-34), deputado federal (1934-37 e 1959-67) e estadual (1947-51), ministro da Educação e Cultura e vice-presidente da República (1967-69). A ele coube, por dois breves momentos, exercer a alta missão de presidir o Brasil. Faleceu em Belo Horizonte em 3/3/75.
As solenidades do centenário estendem-se de Mariana a Ouro Preto e Belo Horizonte, e, dentro de poucos dias, também a Brasília, na sessão magna no Senado e na Câmara dos Deputados. São homenagens merecidas a quem, em tempos turbulentos de nossa história, revelou-se um de nossos maiores estadistas.
Desejo unir minha admiração e alegria a quantos celebram o centenário de Pedro Aleixo. Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente e sinto-me ligado pela amizade e ministério sacerdotal a seu filho jesuíta, padre José Carlos Brandi Aleixo, cuja ordenação foi motivo maior de felicidade para o pai.
Com profunda emoção, participei da celebração litúrgica na Sé de Mariana e de solenes reuniões nesses dias.
Refiro-me, de modo especial, à sessão magna realizada na Câmara Municipal de Belo Horizonte, por iniciativa do vereador dr. Antonio Pinheiro. Os oradores enalteceram a atuação de Pedro Aleixo no jornalismo, com a fundação, em 1928, do "Estado de Minas", a competência como advogado e jurista e os vários momentos de sua militância política. Reconheciam, todos, o exemplo de dignidade, os princípios éticos e democráticos, a abertura ao diálogo e o zelo pela liberdade e pela justiça.
Seu filho, dr. Maurício Brandi Aleixo, recordou o fato que resume as convicções religiosas, a coerência moral, a fibra de caráter e o patriotismo de Pedro Aleixo. Ouvimos, comovidos, a narração do que sucedeu em 13 de dezembro de 1968. Estava reunido, em Brasília, o Conselho de Segurança Nacional. Discutia-se a aprovação do Ato Institucional nº 5. Sabemos quais foram as dramáticas consequências da arbitrariedade, dos cansaços, das torturas e das violências que haveriam de se instaurar no país. O presidente general Costa e Silva solicitou, então, o voto dos membros do Conselho. A única voz contrária à implantação do AI-5 foi a do vice-presidente, Pedro Aleixo. Este voto custou-lhe a destituição do cargo, impedindo-o de assumir a Presidência quando o general Costa e Silva foi vítima de trombose e morte prematura.
A voz abençoada de Pedro Aleixo, discordando do AI-5, permanecerá em nossa história como sinal de coragem e de dignidade para as gerações futuras. Era a expressão de suas convicções religiosas e democráticas e do seu incondicional amor à liberdade. Teriam sido outros os rumos do Brasil se, como era de direito, Pedro Aleixo tivesse ocupado a Presidência. Deus permita que a memória desse cristão exemplar e líder político desperte em nossa juventude a esperança.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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