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NÃO AO PLEBISCITO
A proposta de transferir a decisão sobre a proibição de venda
de armas para um plebiscito em
2005, a ser votada na Câmara, surge
revestida de boas intenções democráticas para dirimir uma questão
polêmica. Consultas plebiscitárias e
referendos são instrumentos da democracia, valiosos em decisões que
envolvam temas relevantes, como a
escolha da forma e sistema de governo em abril 1993.
Não parece ser esse, no entanto, o
caso do comércio de armas. Embora
a questão tenha importância e motive acalorados debates, trata-se de decisão que não representará mudança
expressiva na situação atual.
A Folha tem defendido a proibição
do porte, restrições à venda e o direito do cidadão manter arma em sua
residência. É forçoso reconhecer, no
entanto, que a existência de armas de
fogo em mãos de civis, cidadãos de
bem ou criminosos, é em larga medida fruto de comércio irregular, seja
através de contrabando, seja por desvios de corporações autorizadas a
usá-las, situações sobre as quais a
proibição do comércio não teria efeito, salvo, possivelmente, o de estimulá-las. Segundo o relatório "Fiscalização de Armas de Fogo e Produtos Correlatos", elaborado pelo coronel do Exército Diógenes Dantas Filho juntamente com o Ministério Público Militar Federal, a quantidade
estimada de armas não-registradas
no país seria de 20 milhões, contra 2
milhões de registradas.
A completa proibição da comercialização de armas para civis não irá alterar substancialmente esse quadro.
Mobilizar a sociedade para decidir
sobre a questão acabará por gerar
falsas expectativas, podendo resultar
em frustração e desnecessário desgaste do mecanismo plebiscitário.
Cabe ao Congresso assumir o ônus
da decisão de impor os limites à circulação de armas, sem cair na armadilha de elaborar legislações excessivamente restritivas que serão descumpridas tão logo implantadas.
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