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São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

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MICROPOLÍTICA

As mudanças macroeconômicas que se esperavam do governo Lula foram substituídas por uma campanha em favor de ações possíveis sempre e apenas na microeconomia, com destaque para o espetáculo do microcrédito.
Entretanto, enquanto promete ampliar a oferta de crédito para os pobres, o mesmo governo, através do BNDES, trava o sistema. A ABCRED (Associação Brasileira dos Dirigentes de Entidades Gestoras e Operadoras de Microcrédito, Crédito Popular Solidário e Entidades Similares), reunida em Blumenau no Congresso Latino-Americano de Microcrédito, protestou na semana passada com uma carta aberta.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu integrar a entidade a um grupo de trabalho. Não só a promessa continua em aberto, como o BNDES é acusado pela ABCRED de congelar as operações e jogar dezenas de instituições de pequeno porte em todo o país na rota da falência.
É paradoxal. O mesmo governo que movimenta sua máquina de propaganda em favor do microcrédito aos excluídos sacrifica entidades que vinham atuando na área. Por trás da contradição há conflitos políticos e ideológicos em torno do que significa "microfinança".
O BNDES é a principal fonte de recursos para o microcrédito no país, mas isso não significa que a instituição tenha legitimidade para monopolizar a definição dessa política, pois não existe consenso ideológico nem teoria definitiva sobre o tema.
Há inúmeros modelos, sendo a diversidade, aliás, saudável num momento em que se buscam alternativas para reativar o desenvolvimento.
É legítimo que o novo governo considere equivocado o modelo implementado pela gestão anterior. Daí a mudar de política sem debate ou justificativa, deixando milhares de microempreendedores sem amparo, há um abismo injustificável que traz para o primeiro plano a política pequena de tecnocratas encastelados em gabinetes oficiais.


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