São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Pago, logo exijo!
GUILHERME AFIF DOMINGOS
Diferentemente do que acontece em outros países, os impostos no Brasil são embutidos -podemos dizer escondidos- nos preços, de forma que o consumidor não tenha a informação de quanto está pagando de tributos nos bens que compra. Mesmo no caso em que aparecem expressas as alíquotas, como nas contas referentes às tarifas de serviços públicos, existe um subterfúgio que mascara o percentual efetivo, pois é utilizado o chamado cálculo por dentro, o que quer dizer que os impostos incidem sobre eles mesmos, resultando em tributação maior. Quem paga os impostos são sempre as pessoas físicas, sejam como aplicadoras, tomadoras de crédito, prestadoras de serviços, consumidoras ou acionistas. As empresas apenas os recolhem para o governo e os repassam nos preços. Mesmo no caso dos acionistas, quando o mercado permite, as empresas buscam maximizar o lucro livre de impostos, transferindo seu ônus ao consumidor. Isso não significa que a tributação é neutra para as empresas, pois, como os prazos de recolhimento dos tributos são muito exíguos, elas têm de antecipar o recolhimento dos recursos para os cofres públicos antes de receberem o produto de suas vendas. Além disso, a burocracia resultante do sistema fiscal representa um elevado custo para as empresas, o qual vem aumentando significativamente nos últimos tempos, com a generalização do regime de retenção na fonte de muitos tributos. Ocorre que grande parte da população, por estar isenta do Imposto de Renda, não se dá conta de sua condição de contribuinte, não percebendo o elevado peso dos tributos que incidem sobre os bens e serviços. Por isso, considera que os serviços que o governo oferece -precários no geral- são dados gratuitamente, pelo que aceita passivamente o mau atendimento a que está sujeita. Na medida em que a população tomar consciência de sua condição de contribuinte, poderá passar a exigir seus direitos, exercendo sua cidadania. É evidente que, com a exposição do percentual de impostos embutido nos preços dos produtos que consome, o cidadão vai se dar conta do quanto de sua renda é consumida pelos tributos e vai se interessar mais em saber o destino que é dado a esses recursos. Seguramente aumentará a vigilância da população sobre os gastos públicos, o que deverá propiciar a redução dos desvios e desperdícios. Bem informado, o cidadão contribuinte brasileiro vai poder dizer: Pago, logo exijo! Guilherme Afif Domingos, 60, empresário, é presidente da ACSP e da Facesp. Foi deputado federal pelo PFL-SP (1987-91). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Marcos Peixoto Mello Gonçalves e Roberto Romano: Pela democracia Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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