São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2010

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Momento de definição

Desaceleração da economia não causa surpresa, mas é razoável esperar que o país volte a crescer a taxas sustentáveis no 2º semestre

A divulgação da produção industrial de junho, com queda de 1% em relação a maio, confirmou as expectativas de desaceleração significativa da economia no segundo trimestre do ano. Ainda assim, a indústria terminou o trimestre com alta de 11% sobre o mesmo período de 2009 e de 1,4% diante da média do trimestre anterior. Com isso espera-se que o PIB tenha crescido algo próximo a 1% no período, contra 2,7% no primeiro trimestre.
A desaceleração recente decorreu basicamente do fim dos estímulos fiscais no setor de duráveis e de uma natural acomodação depois de um período de acentuado dinamismo. O mesmo padrão ocorreu com o consumo, que teve no segundo trimestre uma fase de ressaca -com contribuição até da Copa do Mundo, que ajudou a acalmar a demanda.
Do lado da inflação, os últimos meses foram favoráveis. A perspectiva de alta continuada de commodities e preços industriais que se colocava no início do ano perdeu força com a deterioração das expectativas de crescimento mundial. Com isso a inflação industrial no atacado foi praticamente a zero nas últimas semanas. Apareceram boas notícias nos preços para o consumidor, com forte queda na inflação de bens duráveis e bom comportamento no valor dos alimentos.
Essa combinação de dados foi a principal razão para que o Banco Central optasse por reduzir o ritmo de aumento de juros e indicasse que o ciclo de aperto monetário já pode ter chegado ao fim, com a taxa Selic em 10,75%. É ainda uma possibilidade a ser confirmada na próxima reunião do Copom, em setembro. Seja qual for a decisão, a alta de juros terá sido menor que a esperada pela maior parte dos analistas há poucos meses.
Pode-se entretanto esperar uma retomada da atividade a partir de julho ou agosto. Os primeiros dados parecem positivos -as vendas de automóveis, por exemplo, cresceram 8% em relação a junho, e o mesmo deve ocorrer com o comércio em geral.
O mercado de trabalho continua sólido, com forte criação de emprego e renda. Nessas condições, não tardará muito para a indústria voltar a crescer.
Para o segundo semestre do ano, é possível que o PIB volte a se expandir entre 4,5% e 5% ao ano, ritmo próximo ao que se considera sustentável em nossa economia.
Já o quadro inflacionário dependerá da demanda doméstica e do ambiente internacional, que teve melhora marcante nas últimas semanas. Houve progresso, por exemplo, na crise fiscal europeia e já se vislumbra a estabilização do crescimento na China. Com isso, insinua-se uma recuperação nas cotações das commodities, ainda que tímida.
Espera-se que a economia continue a crescer até o fim do ano de maneira mais equilibrada, sem pressões inflacionárias significativas. Trata-se no entanto de expectativas -que podem ser contrariadas, como ocorreu recentemente com as previsões do mercado sobre aumento de juros.


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