São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2010 |
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ANTONIO DELFIM NETTO Incerteza e volatilidade A situação econômica mundial continua opaca e incerta até para quem deveria saber das coisas. A prova mais evidente são as diferenças de opinião entre Bernanke, do Federal Reserve dos EUA (o FED), e Trichet, do Banco Central Europeu (o BCE). A verdade é que os Bancos Centrais perderam credibilidade na sua capacidade de formular políticas monetárias adequadas e, principalmente, pela clara demonstração de que foram incapazes de atender à verdadeira razão pela qual foram criados: manter higidez e liquidez do sistema financeiro. A demonstração desse fato é que só depois da crise instalada eles resolveram fazer os "testes de estresse" (primeiro o FED e depois o BCE) do sistema financeiro, o que deveriam, rotineiramente, ter feito durante todo o tempo. É preciso fazer exceção do Banco Central do Brasil. Talvez menos por virtude e mais por imposição da história, ele sempre teve cuidado com as ligações externas de nosso sistema bancário. Com o Plano Real e a eliminação dos "lucros dos floatings", ele foi obrigado a produzir, em fevereiro de 1997, o Proes (Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Área Financeira) e, em março do mesmo ano, o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), que tornou o setor hígido, ao custo de 3% do PIB! Esses programas, junto com a Lei de Responsabilidade Fiscal, de maio de 2000, foram as bases da construção da área monetária ótima no Brasil, preliminar para a eficácia da política monetária. O fato interessante é que essas medidas foram furiosamente combatidas no Congresso pelas bancadas do PT. Posteriormente, no poder, este tirou delas maior proveito. A história mostra que com tempo suficiente até o PT aprende. A volatilidade que as incertezas introduzem nas Bolsas mundiais é visível. Elas respondem nervosamente a qualquer notícia (razoável ou absurda; verdadeira ou falsa). Uma descoberta de água em Marte, por exemplo, prejudicará a demanda futura dos equipamentos do setor de dessalinização das águas na Terra. Logo, o preço das ações do setor deve cair hoje, obedecendo às expectativas "racionais" dos fundamentais. A situação é paradoxal. Os governos dos países desenvolvidos -cuja omissão ajudou a produzir a crise-, que usaram os impostos e os empregos tomados de quem ganhava a vida honestamente para enfrentá-la, não foram capazes, até agora, de reconquistar a confiança do setor privado. Sem ela não há saída. O mundo vai continuar a marchar para a insensatez fiscal e vai terminar muito mal. ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna. Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Copa literária Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES Marcos Troyjo: Para onde vão os Brics? Índice |
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