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D. Hélder, "irmão dos pobres"
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Assim quis chamá-lo o papa João
Paulo 2º, reconhecendo, com carinho,
um dos mais fortes testemunhos da
vida de d. Hélder.
Na noite de 27 de agosto, sentindo
que as forças diminuíam sempre
mais, pronunciou suas últimas palavras: "Estou indo para a Casa do Pai".
Que admirável exemplo para nós. O
próprio d. Hélder repetia com ardor:
"Como é bela a vida quando há razões
para viver". Sua existência foi para todos um dom da misericórdia divina.
D. Hélder, desde cedo, se deixou atrair
por Deus, pela missão de Jesus redentor e sua paixão profunda pela união e
paz entre todos.
Quem não se lembra de seu entusiasmo e tenacidade em anunciar a
justiça e a paz nas mais distantes regiões do mundo? Homem de consenso, de concórdia, encontrava sempre a
palavra inspirada para congregar as
pessoas e lhes dar a mensagem de confiança.
Pastor querido do povo, passou pela
terra fazendo o bem. Cada um de nós
guardará na lembrança cenas inesquecíveis de bondade, zelo e coragem.
Amava seus irmãos bispos e respeitava diferença de posições. Teve missão
fundamental na criação da CNBB e do
Celam, bem como atuação lúcida e
construtiva no Concílio Vaticano 2º e
nas conferências de Medellín e Puebla.
Para os brasileiros, d. Hélder representa o profeta providencial para a defesa e promoção da dignidade da pessoa humana, à luz da filiação divina.
Durante o período do governo militar, colocou-se ao lado dos perseguidos e injustiçados para impedir as arbitrariedades e abusos do poder. Foi
incompreendido e hostilizado, mas
nunca desanimou. Resistiu com fé a
todas as ameaças. Conseguiu, com
mansidão e firmeza, evitar a violência
e a vingança, unindo os corações e
sustentando a esperança. Sabia ler nos
acontecimentos os sinais da providência de Deus que guia os caminhos da
história. Não criticava. Preferia construir. Convencia pelo amor e pelo perdão. Ouvia a todos e procurava compreender a angústia e o sofrimento de
cada um e aguardar paciente a hora de
Deus.
Seu segredo era a intensa oração nas
longas madrugadas, diante do sacrário. Na presença de Jesus Cristo encontrava luz e força para se colocar,
incansável, a serviço dos irmãos, especialmente dos mais pobres.
Sonhou e ensinou a sonhar com o
"ano 2000 sem miséria".
Suas palavras caíram no coração de
muitos que, com ele, aprenderam a
amar, a esperar e a descobrir estrelas
na escuridão da noite.
Como Moisés diante da terra prometida, seus olhos vislumbraram, ao
longe, a aurora de uma humanidade
solidária. Deus o chamou antes para
receber o prêmio.
Parece-me vê-lo na presença de Jesus Cristo, saudando-o com entusiasmo pelo Jubileu e contando animado,
com gestos largos e olhar feliz, ao Divino Mestre as muitas sementes de vida
e esperança, entre lágrimas e alegrias,
lançadas sobre a terra boa. E Jesus sorrindo, ao lado de Maria, lhe estará dizendo: "amigo bom e fiel, irmão dos
pobres, entra para sempre na alegria
do meu reino". Hoje, d. Hélder, diante
de Deus Pai, intercede pelo Brasil e pelo mundo inteiro.
"Querido irmão, concede-nos a graça de continuar, a teu exemplo, a missão de Jesus com espírito firme e apaixonado pelo reino da justiça, amor e
paz".
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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