São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

PT, PSDB e satélites

SÃO PAULO - Numa eleição de fraco sentido político, se comparada à eleição da "onda rosa" de 2000, e muito renhida, a julgar pela quantidade de disputas importantes que se encaminhavam para o segundo turno no começo da noite de ontem, qual seria o balanço provisório a reter?
Será muito difícil alguém cantar vitória com base apenas nos números saídos das urnas. A decisão da eleição em São Paulo, terra de petistas e tucanos, ora os partidos mais fortes do país, e sede das principais lideranças nacionais, por enquanto, pode ter sentido simbólico. Mas o resultado da votação reflete, até agora, mais as disputas locais. É mais fragmentado do que poderiam imaginar até os mais céticos em relação à tese da federalização da disputa.
O PT parece ter desempenho melhor do que o esperado. O PSDB confirma sua recuperação depois das duras derrotas de 2000 e 2004. No restante do sistema partidário, o mais notável é a desagregação do PFL, que vence no Rio, mas com o sempre trânsfuga partidário Cesar Maia, do partido dele mesmo. Pode ganhar com Amazonino Mendes em Manaus, outro migrante político, e com Moroni Torgan, em Fortaleza, que enfrentará segundo turno duríssimo. César Borges, pefelê de ACM em Salvador, já sai muito chamuscado da disputa e deve perder no segundo turno. O PFL, que sofre de síndrome de abstinência aguda do poder, mais e mais torna-se partido dos grotões.
Nos demais partidos, o que se assiste tanto no Congresso como no resultado das urnas é a criação de uma rede de partidos-satélites em volta dos partidos mais fortes nacionalmente, PT e PSDB. Tais partidos menores tornam-se prestadores de serviços políticos para as grandes legendas e organizadores do clientelismo nas regiões que governam. Já foi esse o destino de PTB e PL, satélites hoje do PT. O PMDB já funciona assim por meio de suas filiais sempre em conflito. Parece ser esse o destino de PFL, PDT, PSB e PPS, que tenderão a prestar serviços tanto para o poder atual ou para o próximo vencedor federal.


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