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MARCOS NOBRE
Obama e as circunstâncias
A VELHINHA de Milwaukee e
João Pereira Coutinho acreditam que John McCain
vencerá as eleições de hoje nos
EUA. Sem desmerecer a torcida de
ninguém, junto-me ao Eremildo na
certeza de que Obama será o próximo presidente.
Obama pode ser vago, mas não
esconde o tamanho que pretende
ter. Ainda durante a disputa pela
indicação, declarou que Ronald
Reagan "alterou a trajetória dos
EUA de um modo que Richard Nixon não fez e de um modo que Bill
Clinton não fez".
Quis dizer que um presidente é
essencialmente as suas circunstâncias. Sob Ronald Reagan, afirmou,
havia uma disposição das pessoas
para a mudança. Ou seja: não é acaso que seu slogan de campanha seja
"a mudança de que precisamos".
Obama quer ser um "Reagan
democrata".
Seja lá o que isso queira dizer
(não parece boa coisa de qualquer
forma), oportunidade não faltará.
A crise econômica atual não é a de
1929, nem de longe e ainda bem.
Mas é muito grave. E, pela primeira
vez em 70 anos quase ininterruptos, as duas Casas do Congresso devem ter maioria democrata.
A distância histórica que separa
do 1980 de Reagan é imensa. Não
apenas pelo desaparecimento da
União Soviética e pela revolução da
informática. Todo o aparato teórico da economia que governa até
hoje já tinha sido produzido e dominava a academia e instituições
como o FMI e o Banco Mundial.
Para estender esse domínio também para a política faltava-lhe apenas desenvolver as técnicas de governo correspondentes. Reagan e
Margareth Thatcher abriram seus
governos a esse experimento.
Hoje, ao contrário, não há nenhum arsenal científico e técnico
alternativo à disposição. São tempos de mercado financeiro globalizado e de política econômica única.
Veja-se o exemplo dos ideólogos
do mercadismo. Resolveram sumir
por uns tempos, virar analistas imparciais que não têm nada com isso, reclamar da falta de moralidade
dos agentes econômicos. Voltam a
passar sermão assim que a crise
amainar. Como se nada houvesse.
Além disso, uma mudança do tamanho que parece querer Obama é
difícil por ele pertencer a uma geração emparedada entre o fantasma da "imaginação no poder" dos
anos 1960 -quando nasceu- e a
mentalidade "só quero saber do
que pode dar certo" que guiou sua
formação nos anos 1980. Em política, é uma geração (também no Brasil) marcada por poucas idéias e
muito realismo político.
Talvez seu lugar na história não
seja mais do que o de administrar
os conflitos em fogo brando e de
passar o bastão adiante. Mas pelo
menos deve passar um bastão sem
guerras nem obscurantismo. Não é
pouca coisa.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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