São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2010

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CARLOS HEITOR CONY

O papa e a praça Mauá

RIO DE JANEIRO - Grande parte da imprensa e da opinião pública estranhou (e condenou) a intromissão de um chefe de Estado soberano em questão interna (eleições presidenciais) de outro Estado soberano. Dando nome aos bois: o Vaticano e o Brasil.
Indo por partes, como fazia Jack, o Estripador: o Vaticano, como Estado, não se manifestou. Quem se manifestou, na condição de líder religioso de uma considerável parcela da humanidade, foi o chefe da Igreja Católica, instituição de caráter universal (a palavra católico vem do grego e significa exatamente isso: universal).
Ele nomeia, transfere e aposenta os bispos católicos de todo o mundo, que lhe devem, acima de tudo, respeito e obediência. E foi ao episcopado brasileiro que ele dirigiu a mensagem em que lembrou uma cláusula pétrea da religião a que papa e bispos pertencem.
Nenhuma novidade em seu pronunciamento. Como disse o presidente Lula, indagado sobre o assunto, há 2.000 anos a igreja católica tem um corpo de doutrinas e de práticas que atravessa a história e, em alguns casos, a supera.
Resistiu à perseguição dos césares de todos os tempos, os romanos dos primeiros séculos da era cristã, resistiu à reforma de Lutero, ao cisma da Inglaterra, às revoluções Francesa e Russa.
Dentro do conceito republicano da liberdade de culto, os brasileiros têm o direito de seguir qualquer religião, adotando os seus dogmas e as suas tradições.
Nada a ver com o Estado laico que alguns bradaram na ocasião. O Brasil é um Estado laico, sim, mas é (ou pretende ser) acima de tudo um Estado democrático, que abriga e protege todos os cultos e formas de pensamento.
Como líder religioso, o papa dirigiu-se aos bispos, que são até certo ponto os seus representantes. E não como chefe de um Estado pouco maior que a praça Mauá.


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