|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Festival de trapalhadas
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - O Congresso estava divertidíssimo ontem, desnorteado com pelo
menos três erros grosseiros.
O mais grave foi o aumento do IR
sobre investimentos. Valia para os
fundos de ações? Pela redação da área
econômica aprovada às pressas, valia.
Mas não deveria valer.
Debaixo da caçoada geral, Planalto,
Fazenda, BC e o relator Roberto Brant
(PSDB) amanheceram encenando a
peça "esqueçam o que escrevi". No caso de Brant, uma pena. Professor de
economia e finanças, foi secretário da
Fazenda de Minas e é tido como um
dos bons quadros do Congresso.
Outro erro foi o PSDB tirar o tapete
do pefelista José Lourenço, relator da
MP que adiava por dois anos a redução de 70 para 67 anos de idade para
que os velhinhos paupérrimos tenham
direito a renda mínima.
Lourenço tinha tentado sem sucesso
amenizar uma medida tão impopular.
Governo e tucanos não toparam. Na
hora H, porém, o PSDB deu uma de
ACM e assumiu o discurso do bonzinho, defendendo os idosos e descartando o texto do relator. O português
Lourenço subiu nas tamancas.
Um terceiro erro foi do deputado
goiano Sandro Mabel (PMDB), relator
da MP que autoriza a demissão de 55
mil servidores não estáveis. O projeto
tinha artigos repetidos, textos contraditórios, uma barafunda. Ficou claro
que ele nem sabia do que se tratava.
A oposição tirou sua casquinha, é
claro. Riu, provocou, tripudiou. "Essa
dos velhinhos era mesmo 'impassável"', dizia o petista José Genoino, reclamando da decantada falta de sensibilidade social do governo tucano.
Mas, a bem da verdade, não houve
vencedores, só um grande perdedor: a
instituição, ao passar a idéia de que
não legisla, não pensa, não produz,
apenas espera que caiam no seu colo
os projetos elaborados pelo governo.
Depois disso, os governistas assumem a paternidade e negociam freneticamente a aprovação de textos que
nem sempre entendem. E a oposição
arremata o teatro condenando textos
que ela, da mesma forma, não digere
corretamente.
Ou seja, o Executivo legisla e o Legislativo executa -mas só o que o Executivo manda.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|