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CLÓVIS ROSSI
Posse prematura
SÃO PAULO - O PT está assumindo cedo demais os ônus de ser governo.
Essa sensação já vinha de antes, não
é apenas minha, mas torna-se mais
forte agora que Antônio Palocci, tido
como futuro ministro da Fazenda, foi
o porta-voz do descontentamento
(explicável e natural) com o rebaixamento dos títulos da dívida brasileira
pelo banco JP Morgan.
Palocci disse que "o Brasil tem-se
mostrado um país economicamente
forte, superando de maneira muito
positiva os seus obstáculos", de acordo o noticiário da Folha Online.
Seria bom tentar pôr um pouco de
perspectiva na coisa.
Ponto 1 - Se o Brasil se tem mostrado "um país economicamente forte",
muitas das críticas do PT ao desempenho econômico no período FHC,
como as feitas por Luiz Inácio Lula
da Silva em Buenos Aires, ficam no
mínimo esmaecidas.
De duas, uma: ou o Brasil tem-se
mostrado um país economicamente
forte (para Palocci) ou ficou vulnerável à especulação (para Lula).
Ponto 2 - A culpa pela vulnerabilidade não pode, a não ser com tremenda má-fé, ser atribuída ao PT,
que, afinal só toma posse no dia 1º,
por mais que haja um ambiente mais
ou menos generalizado de "sob nova
gerência" pendurado desde já no Palácio do Planalto.
Ponto 3 - É verdade que o JP Morgan usou supostas dificuldades futuras do PT no Congresso para justificar o rebaixamento.
Mas é chute, tão bom ou tão ruim
quanto qualquer chute. Ninguém,
hoje, está em condições de avaliar
qual será a força parlamentar do futuro governo, que, de resto, dependerá de iniciativas concretas que ainda
não foram anunciadas.
Portanto ao PT cabe repudiar o
chute (o milionésimo de agentes do
mercado desde a campanha eleitoral
até agora). A suposta resistência da
economia tupiniquim fica para ser
provada depois da posse. Aí, sim, o
PT terá de ser governo, de boca e de
caneta.
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