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Peru e Brasil: parceiros no desenvolvimento
HUGO DE ZELA MARTÍNEZ
Essa relação privilegiada que estamos construindo se faz com um país como o Peru, que atravessa um excelente momento na sua história
A "ALIANÇA estratégica" entre
Peru e Brasil significa uma
multiplicidade de assuntos, já
que ela tem manifestações muito variadas. Aqui efetuarei uma breve síntese de algumas áreas de vinculação.
A interconexão física, por meio da
rodovia Interoceânica, está em plena
construção. Os trabalhos para asfaltar
quase 1.000 km começaram em julho
de 2006. Em setembro deste ano, foram concluídos 258 km nos três trechos, o equivalente a quase 30% da
rodovia. A previsão é que já esteja tudo asfaltado em julho de 2010.
Vinculado ao tema está o investimento brasileiro no Peru. Camargo
Corrêa, Norberto Odebrecht, Queiroz
Galvão e Andrade Gutierrez são as
construtoras das vias de comunicação, mas existem outras empresas,
como Petrobras, Gerdau, Cia. Vale do
Rio Doce, Ocean Air, Natura, AmBev,
Votorantim e Azaléia, só para citar os
nomes dos maiores investidores.
O intercâmbio comercial alcançou
cerca de US$ 2,3 bilhões no ano passado, um crescimento de 64,4% em
comparação ao ano de 2005 e três vezes mais que o registrado em 2003. As
exportações peruanas ao Brasil em
2006 somaram US$ 789 milhões, um
incremento de 72,1% em comparação
com 2005, enquanto as importações
peruanas do Brasil em 2006 alcançaram US$ 1,5 bilhão, um aumento de
60,9% em relação ao ano anterior.
A cifra de turistas peruanos e brasileiros ainda é pequena, mas já há empreendimentos que, com certeza, logo produzirão resultados. Hoje estamos trabalhando o aproveitamento
conjunto da designação de duas de
suas muitas atrações turísticas -Machu Picchu e o Corcovado- como
parte das sete maravilhas.
A cooperação na Amazônia é um
exemplo de trabalho positivo que vale
a pena aprofundar, pelo simbolismo
que tem o fato de os dos países agora
se encontrarem numa zona muito relevante para ambos. Um exemplo importante é a cooperação do Peru e do
Brasil no Sipam (Sistema de Proteção
da Amazônia).
Em setembro de 2006, o secretário-geral das Relações Exteriores do Brasil visitou o Peru e tratou com o ministro da Defesa de programas conjuntos para a participação do Peru no
sistema de radares Sivam-Sipam.
Pouco depois, viajou ao Brasil o ministro peruano e continuou tratando
do assunto.
Em julho de 2007, viajou ao Peru
uma delegação do Censipam (Centro
Gestor e Operacional do Sistema de
Proteção da Amazônia), presidida por
seu diretor-geral. Uma viagem muito
frutífera, visto que se consolidou a decisão peruana de se vincular ao Sipam, inicialmente, na aérea de hidrologia e de sensoriamento remoto.
No sensoriamento, trata-se de gerar imagens de alta resolução do território peruano com a utilização de aeronaves R99B do Sipam. Essas imagens serão usadas na realização de estudos sobre impacto ambiental, desmatamento e biomassa.
O Censipam garantiu a realização
de cursos de capacitação de técnicos
peruanos para a análise dos dados obtidos nesse projeto de cooperação. Na
hidrologia, serão utilizadas medições
conjuntas de parâmetros da região do
rio Acre, que envolve as áreas vizinhas do Acre e de Madre de Dios,
no Peru.
Nessa oportunidade também se
realizou uma reunião bilateral, da
qual participaram, pelo lado peruano,
o Ministério das Relações Exteriores,
a Força Aérea, a Marinha, a Comissão
Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Aeroespacial, o Instituto Geográfico Nacional, o Instituto Nacional
de Recursos Naturais, a Direção Geral
da Saúde Ambiental, a Polícia Nacional, o Instituto de Pesquisa da Amazônia, o Instituto Nacional de Defesa
Civil, o Ministério de Transportes e
Comunicações e o Serviço de Meteorologia e Hidrologia com os funcionários do Censipam.
A enumeração dos participantes dá
uma idéia das múltiplas possibilidades de cooperação que existem.
Ali se determinaram a área para começar o sensoriamento remoto, as
necessidades de instrução e de intercâmbio de informação e as áreas de
interesse para a cooperação em hidrologia, saúde pública, preservação
ambiental e controle de resíduos.
Em setembro se efetuou uma segunda reunião técnica em Porto Velho, em que se avaliaram os compromissos anteriores e se decidiram
ações para enriquecer a cooperação
bilateral.
Essa relação privilegiada que estamos construindo se faz com um país
como o Peru, que atravessa um excelente momento na sua história, já que
nossa economia vem crescendo num
ritmo de 6% anualmente há seis anos;
o índice de pobreza caiu de 54%, em
2001, para 44%; a inflação está ao redor de 2,8%; as exportações têm crescido, em média, 24% desde 2001; e o
investimento estrangeiro aumentou
de US$ 810 milhões, em 2000, para
US$ 3,5 bilhões em 2006.
HUGO DE ZELA MARTÍNEZ, 56, formado em ciências econômicas, diplomata de carreira, é o embaixador do Peru no
Brasil. Foi embaixador do Peru na Argentina.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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