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CARLOS HEITOR CONY
Data venia
RIO DE JANEIRO - Reclamação
geral: não se suporta certo tipo de
linguagem, como o economês ("valor agregado", por exemplo). O internetês é também intolerável
("bj", "tb"" etc.). Sem falar na mais
antiga de todas, a do juridiquês,
consagrada, data venia, nos pareceres e nas sentenças de todos os
graus da Justiça.
Implico também com linguagem
acadêmica, não exatamente a da
ABL ou a de outras academias de letras, mas a da universidade, onde se
localizam os mais profundos conhecedores de todos os assuntos,
inclusive os literários.
Já recebi críticas e louvores da
turma e nem sempre consigo compreender o que estão dizendo. Dependendo da leitura que se faz, o
mesmo texto pode ter sentidos contraditórios, como certas fábulas das
antigas ilhas Papuas. Dou o exemplo de uma resenha que li numa revista especializada: "Nos livros de
Joana Quintella, a linguagem trabalha a si própria, numa pulsão metamorfoseadora de pluralidades de
sentidos, compensando a ausência
de referencialidade com um excesso luxuriante e retórico".
Outro dia, por dever profissional,
encarei um conferencista dos mais
notáveis do meio diplomático, um
desses caras que aparecem na televisão como "cientista social". Ele
explicou com sapiência e à exaustão
a vitória de Obama nas eleições
norte-americanas.
Não entendi nada. Antigamente,
poderia dizer que não entendi patavina, mas já nem sei mais o que é
"patavina". Não havia tradução simultânea, como nos simpósios internacionais que se realizam em todo o mundo. Nem legendas, como
no cinema.
Apesar da minha ignorância, fui
perguntado por um repórter que
desejou saber a minha opinião sobre o mesmo assunto. Pensei em tudo o que não entendera e respondi:
"Acho que Obama teve mais votos
do que o adversário".
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