![]() São Paulo, quarta-feira, 05 de janeiro de 2005 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Os 24 meses do presidente
ANTONIO CARLOS MAGALHÃES
A verdade é que o desempenho do governo Lula na área social, todo mundo está vendo ou sentindo na própria pele, deixou muito a desejar nesses dois primeiros anos. Sem a prática da justiça social, na dimensão em que prometeu e como dele se esperava, o presidente, inclusive por não dispor de um bom ministério, acabou abdicando de uma das virtudes mais basilares e consagradoras de qualquer administração pública, que é a justiça. Refiro-me à justiça como virtude moral, capaz de assegurar aos brasileiros excluídos dos benefícios sociais o direito de viverem como cidadãos. Os milhões de empregos para os correspondentes milhões de desempregados e as três refeições diárias para os famintos -não necessariamente nessa ordem, até porque o ideal seria as refeições chegarem à mesa dos necessitados como conseqüência do emprego- são dois dos principais programas sociais do governo que dificilmente se realizarão até o final de 2006. É certo que ninguém pode governar um país, sobretudo um país como o Brasil, que carece de uma base econômica forte e consolidada, pensando apenas no social. Mas ninguém pode, da mesma forma, governá-lo tendo em vista apenas os interesses econômicos. Inflação mais ou menos sob controle, juros elevados para impedir o seu retorno indesejado, PIB em ascensão, banqueiros satisfeitos com seus lucros astronômicos e sem correspondentes ideais de obrigações sociais, a indústria e a agricultura em crescimento: tudo até aqui gira quase que exclusivamente em torno de cifras que, infelizmente, não podem ser convertidas em satisfação social. Até pelo contrário, às vezes representam um sacrifício para a população. Basta citar o exemplo do congelamento da tabela do Imposto de Renda das pessoas físicas, com o qual há quase dois anos, pois só agora anuncia-se corrigi-la, ainda precariamente, são confiscadas parcelas consideráveis dos rendimentos de mais de 15 milhões de contribuintes, acelerando o processo de empobrecimento da classe média. O governo claudica na virtude da justiça social como claudica na virtude da força, aqui empregada como sinônimo de autoridade, ao permitir, por omissão, quer no campo, com o MST, quer nas cidades, com a ação crescente do crime organizado, que forças paralelas às do Estado se estruturem, pondo em risco a ordem pública. No que pese a comprovada competência do ministro da Justiça, falta força para coibi-las, faltam ações para preveni-las. Já disse que não tenho a pretensão de fazer um julgamento dos primeiros 24 meses do governo do presidente Lula, mas, até como seu eleitor eventual, devo lembrar-lhe de que, desde 1º de janeiro, ele dispõe de apenas mais 24 meses para realizar aquilo que o fez merecedor da confiança do povo brasileiro -e por isso foi eleito. Antonio Carlos Magalhães, 77, é senador pelo PFL da Bahia. Foi presidente do Senado (1997-99 e 1999-2001), governador do Estado da Bahia (1991-94) e ministro das Comunicações (governo Sarney). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Jorge Boaventura: Bezerro nômade Índice |
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