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RUY CASTRO
Palavras proibidas
RIO DE JANEIRO - Uma comissão da Câmara aprovou por unanimidade (ou seja, sem ler) o projeto
do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) banindo os estrangeirismos em
voga no Brasil e obrigando sua
substituição por equivalentes da
língua portuguesa. Se o projeto for
aprovado pelo Senado, significa que
Aldo Rebelo passará a ditar como
Millôr Fernandes, Carlos Heitor
Cony, Luis Fernando Verissimo e
todos nós poderemos escrever.
Fico imaginando se Aldo Rebelo
tivesse imposto sua novilíngua no
século 19. Constaria apenas das palavras portuguesas e, quem sabe, indígenas. Isso quer dizer que ficaríamos privados da contribuição negra
ao nosso vocabulário, já que muitos
dos africanos trazidos como escravos eram estrangeiros, de nações
fora do domínio colonial luso.
Angu, balaio, balangandã, banzé,
banzo, batuque, berimbau, bugiganga, bunda, cachaça, cachimbo,
caçula, cafuné, calombo, cambada,
camundongo, candomblé, careca,
cochilo, dengo, engambelar, fubá,
jiló, macambúzio, mandinga, marimbondo, minhoca, mocotó, moleque, muamba, muxoxo, quitute,
samba, senzala, tanga, vatapá, xingar, zumbi. Estas são apenas algumas palavras que viajaram nos porões dos navios e não seriam permitidas. Para Aldo Rebelo, só valeriam
as que viessem no convés, faladas
pelos brancos.
O nacionalismo tem suas virtudes, uma delas a de não se sujeitar a
ser imposto por uma penada -exceto na Albânia, país dos amores do
deputado. De fato, o brasileiro tem
abusado do inglês em suas estratégias de marketing (olha ele aí) e fachadas de lojas. A cafonice impera.
Mas a língua possui lógica própria.
Só conserva o que o povo quer, e essa definição leva tempo.
Aldo Rebelo já fez melhor. Em
2005, graças a ele, o governo Lula
instituiu o dia 31 de outubro como o
Dia do Saci Pererê.
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