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ELIANE CANTANHÊDE
Um na mão, dois voando
BRASÍLIA - O ano de 2009 acabou
com uma crise entre a área civil e a
área militar do governo. O ano de
2010 começa com uma encrenca de bom tamanho exatamente entre essas duas áreas.
São dois temas bastante diferentes, mas, vindo na mesma hora,
sempre um pode contaminar o outro. Um é a questão do Plano Nacional de Direitos Humanos, o outro é
a decisão sobre o melhor pacote para renovar a frota da FAB.
O plano é saudado num aspecto
por todo mundo que tem bom senso: a verdade histórica tem que prevalecer, doa a quem doer, e insistir
na busca dos desaparecidos até a última instância é um direito não apenas político, mas humanitário.
Mas incomoda os militares quando resvala para aquele jeitão stalinista
de criar uma comissão nacional e comitês estaduais que podem jogar
a opinião pública contra prédios
militares e apontar o dedo para oficiais de hoje, que não têm nada a ver com aqueles do passado.
E a renovação dos caças da FAB, o
chamado FX-2, que já sobrou do governo FHC, cria um impasse. A análise técnica de quem entende do assunto apontou o caça sueco em primeiro lugar, o norte-americano em
segundo e o francês Rafale -preferido e virtualmente escolhido por
Lula e pela área diplomática- em terceiro e último.
É uma tremenda saia justa para
Lula, que está entre duas opções: ou
joga o trabalho da FAB na turbina
do Aerolula e anuncia o Rafale, custe o que custar (aliás, literalmente,
porque é de longe o mais caro dos
três); ou recua na decisão política e
segue a orientação de quem entende do assunto e produziu mais de
30 mil páginas de documentos, estudos, análises.
Entre Lula, o plano de Direitos Humanos e os militares, há Jobim.
Entre Lula, os caças e os aviadores e
a Embraer, também há Jobim. É ele quem tem de tourear as feras.
Nos dois casos, Lula ganha tempo. O plano ficou para abril. Os caças, sabe-se lá para quando. E se.
elianec@uol.com.br
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