|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Palocci e Dirceu
BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, responsável pelo cofre, quer fazer o
"contingenciamento preventivo" do
Orçamento. O ministro da Casa Civil, que cuida da política, não quer.
Em outras palavras, um tenta fechar
a torneira, e o outro, abrir.
Os interesses são diferentes. Palocci
quer se prevenir contra o quê? Contra
as pressões que vêm de todos os lados,
especialmente do "lado amigo". A
pressão por verbas e investimentos
parte dos próprios ministros, do PT e
dos seus aliados nos Estados. Não se
esqueça: este é um ano eleitoral.
Quem, senão José Dirceu, tem mais
interesse em finalmente liberar investimentos, fazer o governo andar,
anunciar bons programas e garantir
uma vitória de bom tamanho na primeira disputa petista depois de 2002?
Dirceu não foi destacado por Lula
apenas para meter a mão na massa e
coordenar ministros e ministérios.
Ele era e continua sendo o pólo do
projeto de muitos e muitos anos de
poder acalentado pelo PT. Governo e
campanhas passam pela Casa Civil.
E pelo estilo Dirceu.
Nessa nova disputa entre Palocci e
Dirceu, não há nada de novo nem de
muito grave. Faz parte da história
dos governos e do tripé deste governo:
Lula, Palocci, Dirceu. Cabe aos dois
ministros, agora, disputar a bênção
do presidente. Palocci, com apoio fechado de Gushiken. Dirceu, em
aliança com Guido Mantega.
O mais provável é que Lula vá acabar batendo o martelo em algo intermediário, numa soma que nem seja
vitória de Palocci nem seja de Dirceu.
Ou seja: deve haver contingenciamento, mas de uns R$ 2 bi, em vez de
R$ 4 bi dos R$ 12 bi do Orçamento.
Os sinais para o mercado financeiro é que Palocci tem as rédeas e continua durão no controle da estabilidade. E, para o mercado produtor, que
Dirceu luta por mais flexibilidade. O
problema será quando e se ocorrer o
inverso: o financeiro prever flexibilidade, e o produtor, arrocho. Aí complica.
Quanto à disputa Palocci-Dirceu,
não é a primeira e, com certeza absoluta, não será a última.
Texto Anterior: Puebla - Clóvis Rossi: Açúcar nada doce Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O triste fim das idéias Índice
|