São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Palocci e Dirceu

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, responsável pelo cofre, quer fazer o "contingenciamento preventivo" do Orçamento. O ministro da Casa Civil, que cuida da política, não quer. Em outras palavras, um tenta fechar a torneira, e o outro, abrir.
Os interesses são diferentes. Palocci quer se prevenir contra o quê? Contra as pressões que vêm de todos os lados, especialmente do "lado amigo". A pressão por verbas e investimentos parte dos próprios ministros, do PT e dos seus aliados nos Estados. Não se esqueça: este é um ano eleitoral.
Quem, senão José Dirceu, tem mais interesse em finalmente liberar investimentos, fazer o governo andar, anunciar bons programas e garantir uma vitória de bom tamanho na primeira disputa petista depois de 2002?
Dirceu não foi destacado por Lula apenas para meter a mão na massa e coordenar ministros e ministérios. Ele era e continua sendo o pólo do projeto de muitos e muitos anos de poder acalentado pelo PT. Governo e campanhas passam pela Casa Civil. E pelo estilo Dirceu.
Nessa nova disputa entre Palocci e Dirceu, não há nada de novo nem de muito grave. Faz parte da história dos governos e do tripé deste governo: Lula, Palocci, Dirceu. Cabe aos dois ministros, agora, disputar a bênção do presidente. Palocci, com apoio fechado de Gushiken. Dirceu, em aliança com Guido Mantega.
O mais provável é que Lula vá acabar batendo o martelo em algo intermediário, numa soma que nem seja vitória de Palocci nem seja de Dirceu. Ou seja: deve haver contingenciamento, mas de uns R$ 2 bi, em vez de R$ 4 bi dos R$ 12 bi do Orçamento.
Os sinais para o mercado financeiro é que Palocci tem as rédeas e continua durão no controle da estabilidade. E, para o mercado produtor, que Dirceu luta por mais flexibilidade. O problema será quando e se ocorrer o inverso: o financeiro prever flexibilidade, e o produtor, arrocho. Aí complica.
Quanto à disputa Palocci-Dirceu, não é a primeira e, com certeza absoluta, não será a última.


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