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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Sinal vermelho para as despesas do governo!
Por que o Brasil não cresce? Afinal, nossas exportações explodiram, o superávit comercial é enorme,
a inflação está sob controle, temos a
Lei de Responsabilidade Fiscal e, por
cima de tudo, o governo economizou
4,84% do PIB -quase R$ 100 bilhões
em um ano. Não seria esse um bom
quadro para o país crescer?
Ao destrincharem esses argumentos, os economistas revelam, porém,
que o enorme superávit primário foi
obtido com base num brutal aumento
de arrecadação de impostos, e não
com base em corte efetivo nas despesas do governo. Ao contrário, no âmbito federal, estas subiram mais de
10% em termos reais, sem contar os
gastos com juros.
A gastança foi maior do que a economia. Resultado: não sobrou dinheiro para os investimentos públicos, especialmente para a infra-estrutura,
que, afinal, é a base do crescimento
econômico. Em 1987, a União investia
cerca de 2,5% do PIB nessa área -o
que já era irrisório. Hoje, investe menos de 0,5%.
O Brasil estará condenado a crescer
pouco por muitos anos se esse quadro
não mudar. Todos sabem, por exemplo, que a falta de investimentos em
energia nos dias de hoje condenará o
país nos dias de amanhã. O que vale
para a energia vale para as rodovias,
ferrovias, portos, armazenagem e tantas outras necessidades de infra-estrutura.
O resultado do nosso sacrifício foi
desanimador. Qualquer chefe de família que esteja endividado sabe que
jamais sairá do sufoco se continuar
gastando mais do que ganha.
Esse é o caso do Brasil. O atual ajuste
das contas públicas é de má qualidade,
pois se baseia exclusivamente no aumento de arrecadação. Para quem
analisa a economia desse ângulo, os sinais são preocupantes. Os investidores que têm vocação produtiva, com
raras exceções, ficam desconfiados de
um governo que economiza tanto e se
endivida cada vez mais. Poucos desenvolvem o interesse em investir em
empreendimentos que demandam
um longo período de maturação ao
intuírem que o desequilíbrio das contas públicas será atacado com mais
impostos. Poucos se animam a investir quando vêem que, com a produção
contida e a gastança aberta, o governo
terá de manter juros estratosféricos
para controlar a inflação.
Nessas condições, os capitais vão para as operações especulativas ou procuram outros países. Em 2005, o fluxo
de investimentos produtivos no mundo cresceu 29%. No Brasil, diminuiu
15%. O Instituto de Finanças Internacionais prevê a mesma situação para
2006.
Estamos em um ano eleitoral. A economia ocupará o centro do debate nas
campanhas. O uso da parafernália técnica será abundante. Os eleitores ouvirão muito economês.
Seria bom se, no lugar dos sofisticados argumentos, o governo tomasse
medidas concretas para inverter os sinais atuais e, com isso, estimular grandes massas de capitais a se orientarem
para a produção. Afinal, quem olha o
nosso país no globo sabe muito bem
que o mundo continuará precisando
do Brasil por muitas décadas. Vamos
tirar proveito disso e criar empregos
para nossa gente!
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
@ - antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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